Mário Lanznaster: “É preciso vencer o imobilismo”
A situação concreta em que vivemos hoje e os fatos e dados que marcam a conjuntura econômica não deixam dúvidas: 2016 será um ano difícil e mais desafiador do que 2015. Desanimar? Nem falar. A orientação é enfrentar mais esse período de obstáculos com determinação, pois, quando essa terrível fase passar, quem tiver sobrevivido estará em posição de liderar a retomada do crescimento. Parece fácil falar assim, mas não é. A face mais desumana da crise é o empobrecimento geral da população: todos perdemos poder de compra e, por consequência, qualidade de vida. As camadas sociais mais vulneráveis são as que mais sofrem. Por isso, é decepcionante o alheamento do governo e do Congresso que, neste ano, nada fizeram para enfrentar a crise ou mitigar seus efeitos. Também é evidente que o desemprego e o endividamento das famílias se agravarão logo após o carnaval, fato que dificultará ainda mais a situação do mercado interno.
O custo de produção aumentará em todas as cadeias produtivas, em todos os setores e para todos os agentes econômicos – o que é uma ironia. A economia anda lenta, o consumo baixo, não há escassez de nenhum produto, mas os custos não baixam e a inflação não cessa. A insensatez da gestão macroeconômica e a manutenção artificialmente em baixa dos preços administrados foram determinantes na construção desse quadro de horror. Portanto, nada relacionado com o cenário externo. Capitais internacionais, tão necessários para a robustez da nossa economia, não virão mais – nem para especulação e nem para investimentos.
A indexação direta ou indireta de produtos com mercados internacionais deixa esses insumos vinculados ao dólar e, portanto, encarecem a cada semana. É o caso dos grãos necessários ao funcionamento do gigantesco parque agroindustrial brasileiro – aquele que está salvando a balança comercial do país. O milho e o farelo de soja, itens essenciais na produção de carne, se tornarão escassos e caros. Haverá muita demanda e pouca oferta de milho, cuja produção vem caindo especialmente em Santa Catarina. Fatalmente, aumentará a inadimplência de muitos agentes econômicos. Poderemos ter uma nova onda de falências de pequenas e médias agroindústrias, como aquela que ocorreu em 2012, na crise que levou o preço do milho para as alturas. Temo que a concentração industrial no setor de alimentos de carnes prosseguirá.
Balizados pelo preço e pela oferta, o consumo de aves aumentará, o de carne bovina cairá e o de carne suína se manterá em 2016. As exportações continuarão promissoras no ano que vem tendo em vista a abertura de alguns novos mercados e a consolidação de outros. Avançaremos sobre países de língua portuguesa, África do Sul, Ásia, Coreia do Norte. Por todas essas condicionantes, o ano não será de investimentos. A estratégia é manter posição e só avançar com segurança.
A inflação baterá, novamente, nos 10%. A crise e seus efeitos deveriam levar o governo, o Congresso e o Judiciário a refletirem sobre mudanças que a sociedade exige. Precisamos de um poder público eficiente, controlado por sistemas sociais de avaliação de desempenho e que afaste, julgue e condene os corruptos. A previdência pública, com seus elevados benefícios, é um encargo que a sociedade não consegue mais suportar. Por essa razão, o sistema deve ser mudado. A legislação trabalhista brasileira, comprovadamente a mais complexa, anacrônica e onerosa do planeta, tornou-se fator nocivo à empregabilidade – afastando inclusive capitais internacionais para projetos produtivos que tem preferido aportar seus recursos em outros países. Enfim, é necessário ter esperança, mas, também, é necessário vencer o imobilismo.
*Presidente da Cooperativa Central Aurora Alimentos e vice-presidente para o agronegócio da Fiesc.
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