Lições de grandeza e oportunidade
O Show Rural Coopavel (foto), encerrado na semana passada em Cascavel (PR), é hoje um dos melhores termômetros do agronegócio brasileiro. Essa grandeza vem da capacidade de organização e de seus propósitos. A pujança e a força do agronegócio brasileiro, em suas diversas frentes, lá estão representadas. Mas, acima de tudo, o nível tecnológico da agricultura brasileira é facilmente percebido por quem visita a feira.
Da pesquisa cientifica à produção, do papel do cooperativismo à cadeia de fornecimento de insumos, tudo lá nos remete ao que há de vanguarda no mundo do agronegócio. E o que é mais importante: a certeza de que se é capaz de fazer acontecer sem necessariamente contar com o governo. Ali o empreendedorismo e a iniciativa privada são a essência. Ali se ouve falar em investimento, em inovação e em pesquisa e desenvolvimento – diferentemente do que se percebe em outros fóruns. Grande destaque foi a presença de empresas e de executivos estrangeiros, consequência do destaque global do Brasil no agronegócio. Todos querem fazer parte desta agenda.
Depois do pequeno susto do último trimestre de 2016, quando o PIB agrícola apresentou recuo, temos agora uma expectativa bem diferente. Estamos por contabilizar uma safra recorde, com preços atraentes, o que contribuirá para um ciclo virtuoso, principalmente na cadeia de todo o agrobusiness e nas regiões produtoras. A agricultura certamente drenará recursos para as economias regionais, impulsionando-as, embora essa andorinha, sozinha, não vá fazer verão. É necessário que os demais setores da economia, principalmente a indústria, reencontrem a rota do crescimento. Infelizmente, não podemos ainda comemorar e trabalhar com a expectativa de que a economia como um todo apresente recuperação. Os desafios do Brasil são enormes, até pelo fato que não é só uma crise econômica que vivemos, mas também de credibilidade.
Cascavel mostrou que o setor produtivo rural está otimista, embora ainda ressentido de uma melhora da macroeconomia. Temos de lembrar que na esteira do agronegócio está a cadeia da indústria de alimentos, que tem sido altamente afetada pela queda do poder de consumo do brasileiro. O custo logístico também pesa sobre o setor. O tema é recorrente e recheado de promessas governamentais. Resta ao agronegócio conviver com a inadequada e cara estrutura de armazenagem e escoamento da safra, que subtrai nossa competitividade no mercado internacional.
Ao visitar as fronteiras agrícolas do Brasil, fica evidente o questionamento: como pode um país como esse estar em crise? Nossos governantes têm de sair dos seus gabinetes e ver esta realidade! Os empresários do agronegócio também devem, ainda, trabalharem para obter avanços na gestão de seus negócios, aplicando ferramentas capazes de servir como colchão para futuras crises. No setor há grandes, médias e pequenas empresas: desde gigantes multinacionais, que investem pesadamente em P&D, a pequenas e médias que atuam em nichos de mercado; de grandes produtores, usuários de alta tecnologia, à produção familiar, passando pelo importante e inegável papel desempenhado pelas cooperativas. As cooperativas paranaenses aliás, saíram à frente com seu Plano Estratégico Paraná Cooperativo (PRC 100) que contempla cinco pilares (financeiro, mercado, cooperação, infraestrutura e governança & gestão). A estratégia quer fazer com que as cooperativas obtenham a marca de R$ 100 bilhões de faturamento por ano até 2020 – em 2016 essa soma chegava a R$ 70 bilhões. É um plano exemplar, que conta com vários comitês e um grande número de parceiros e provedores de serviços.
O mesmo não se pode dizer da cadeia de distribuição e comercialização, onde ainda reina um grande contingente de empresas familiares. Distribuidores e revendedores de máquinas e insumos, e até mesmo médias empresas brasileiras, apresentam grandes oportunidades de melhoria em seus processos de gestão, planejamento e sucessão. Mas o Show Rural Coopavel trouxe um alento, pois mostrou que a busca da excelência é um caminho que poderá – e deverá – ser trilhado com certa facilidade.
*Diretor da 3G Consultoria – Governança, Gestão e Gente, de Curitiba.
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