O “gran catador” de vinhos de garagem
Desde meados de março, a La Charbonnade importa vinhos da Bodega Solandes, vinícola argentina que produz vinhos orgânicos. Esses produtos costumam apresentar aroma e sabor muito mais densos que um vinho produzido normalmente. A ideia da Solandes é não utilizar produtos químicos nas videiras, o que confere a característica mais natural aos vinhos. Entre os lançamentos estão o Chardonnay 2014 (R$ 62) que apresenta notas cítricas, o Malbec Malbec (R$ 52), feito com dois vinhedos de diferentes altitudes e o Malbec Coleccion (R$ 62) que passa por madeira.
Esse é mais um dos achados de Humberto Heidrich (foto), proprietário da importadora que tem sede em Canela. Sommelier internacional pela FISAR e ex-professor de Administração Hoteleira da UCS, Humberto abriu um pequeno restaurante na rodovia entre Gramado e Canela. Foi a partir desse estabelecimento, chamado La Charbonnade, que ele começou a construir sua reputação em gastronomia – e vinhos, claro. O passo seguinte foi construir uma loja com adega subterrânea, onde conseguia oferecer maravilhosos rótulos que atraiam a atenção de turistas. Muitos desses vinhos eram trazidos graças às constantes viagens do empresário para o Chile e Argentina. “Iniciei essa busca ainda em 2006 por sentir a necessidade de trazer vinhos diferenciados feitos por famílias em pequenas quantidades e que trazem ao paladar o toque da mão do autor”, conta Humberto. Diferente das grandes fabricantes do produto, as vinícolas familiares, sublinha ele, conseguem presentear os consumidores com exemplares únicos.
Foi crendo nessa filosofia que Humberto se transformou em uma espécie de “gran catador” de vinhos de garagem. Graças ao seu instinto, os brasileiros podem degustar preciosidades, por vezes excêntricas, do MOVI – sigla que designa o Movimento dos Vinhateiros Independentes do Chile, grupo formado por uma dezena de vinícolas no verão de 2009. “Conheci o projeto em seu início através do Eduardo Reinero, um dos precursores e apaixonado pelo que faz”, recorda Humberto. Cada membro do MOVI tem um compromisso honesto e desinteressado pela independência, transmitindo em cada etapa da produção sua maneira de interpretar determinados terroirs e vinhedos, e que são manifestados na forma de viticultura, vinificação, envelhecimento e distribuição. Entre os associados estão profissionais dos mais variados ofícios como enólogo Sergio Avendaño Rojas, da Trabun, que é baterista. Também fazem parte do MOVI as vinícolas Clos Andino, Meli, Starry Night, entre outras. Cepas & Cifras sugere os rótulos Meli Riesling e Meli Carignan (R$ 39 e R$ 49, respectivamente), o Clos Andino Chardonnay (R$ 95), o Trabun Syrah (R$ 85) e o surpreendente Emocion Starry Night Pinot Noir (R$ 85). Todos os rótulos podem ser encontrados no site da La Charbonnade ou na Vinho & Arte Casa, em Porto Alegre. Ambas entregam para todo o país.
A La Charbonnade também tem em seu portfólio os vinhos de Felipe Rodriguez e Marcelo Miras. Por coincidência, dois produtores são referência na variedade Pinot Noir, em escala limitadíssima e muita personalidade, nos expressivos terroirs de Casablanca (entre Valparaíso e Santiago) e Patagônia Argentina. “Por causa de nomes como esses afirmo que a La Charbonnade está à disposição daqueles que já se iniciaram no mundo dos vinhos, ou seja, pessoas capazes de reconhecer valor, algo que vai muito além do preço”, assegura Renato Luca Marques, diretor comercial da companhia para a região sul. Com essa filosofia, nada mais natural, portanto, que São Paulo, centro econômico do país, se torne o principal destino da companhia: quase a metade (43%) das vendas totais da importadora seguem para a capital paulista. “O mercado que mais consome artigos de alto preço no país é São Paulo. Infelizmente os Estados do sul ainda não estão maduros para vinhos de maior valor agregado. Talvez pela nossa cultura, onde fomos acostumados a fazer o próprio vinho e, por isso, não perceber maior valor agregado em um produto que seja diferente”, opina Marques que acumula em seu currículo a diretoria regional Sul da Visa e a superintendência nacional do antigo Unibanco, hoje Itaú-Unibanco.
O Distrito Federal e o Rio de Janeiro também são praças importantes para a La Charbonnade. No entanto, é no Rio Grande do Sul que a empresa consegue ser mais competitiva em razão da famosa substituição tributária. “Nossa política de substituição tributária para venda interestadual nos coloca fora da competição, pois essa taxa pode elevar o preço final em até 50%”, desabafa Marques. Mas nem mesmo dificuldades como essa tiram o ânimo de Heidrich, o fundador da La Charbonnade. “Tenho paixão em tudo o que faço e sempre busco me aperfeiçoar”, garante. Só resta aos apreciadores dos grandes vinhos agradecerem tamanha dedicação ao “gran catador” de tantos rótulos excepcionais.
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