O mundo se despede de um dos seus melhores sommeliers

Eis que sou surpreendido na madrugada desta sexta-feira (18) com a notícia do falecimento de Gerard Basset (foto). Ele foi o único profissional no mundo do vinho a ostentar os títulos de O Melhor Sommelier do Mundo, Master Sommelier, Master of Wine e Wine MBA. Basset foi diagnosticado com câncer no esôfago ainda em 2017. No ano passado, ele foi operado, porém a doença ,já em fase avançada levou o profissional ainda na quarta-feira (16). Francês, Basset fez sua vida profissional na Inglaterra, um país marcadamente conhecido pelo seu histórico na comercialização de vinhos. Basset venceu o concurso mundial de sommelier, em 2010 no Chile, mesmo já tendo todos os títulos que alguém desejar ter. Ele superou Paolo Basso e David Biraud, também sommeliers consagrados.

Em uma entrevista que concedeu para a revista Prazeres da Mesa em 2018, Basset destacou que o vinho deve ser tratado de forma pragmática, sem excessos de glamorização e da mesma forma que é acessível a todos que o procuram. Ele também defendia que a bebida deveria ser tratada de forma inclusiva para os novos e velhos consumidores. Basset evidenciou sua preocupação com as pessoas ao responder uma pergunta feita por Marcel Miwa que o entrevistou. Wiva, especialista em serviço de vinhos pelo Senac-SP e jurado em diversos concursos internacionais de vinho, o questionou sobre o Basset achava da pressão por maior lucratividade nos restaurantes e hotéis, com menos investimentos e cortes de despesas. Basset foi categórico: “Há sempre um ciclo e depende do momento econômico e político de cada local. É difícil gerenciar um hotel ou um restaurante, são negócios complexos que demandam muito material humano. Para se ter qualidade, é preciso investir nas pessoas. Alguns países também têm uma tributação elevada para o turismo. Entendo que em alguns momentos exista uma pressão por corte de custo, no entanto, não acredito que eliminando posições como a do sommelier resolva o problema. Isso não faria sentido, pois coloca-se em jogo todo o conceito desenvolvido em uma atividade tão dura.”

Sua veia empresarial foi testada na questão seguinte, pois foi pedido para que ele respondesse como manter um sommelier em um restaurante, tendo em vista que outras posições – até com maior remuneração – poderiam tirar o profissional do estabelecimento. “Acredito que as competições surgiram para isso, valorizar a profissão e mostrar a excelência que esses profissionais podem alcançar. O empregador deve ser criativo também. As horas trabalhadas não podem ser consideradas apenas as em que o sommelier esteja no salão. Deve-se encontrar um jeito de ter um bom ambiente e este se faz com boas pessoas. Depois, deve haver um programa para mantê-los motivados a melhorar a cada dia. Por exemplo, um sommelier que não tem a prerrogativa de escolher os rótulos que estarão na carta, não seria um cenário muito motivador. É como ter um chef e dizer que ele apenas seguirá receitas que estão estabelecidas por outra pessoa”, sentenciou. E cobrou que o sommelier se porte com liberdade. “Deve-se dar a liberdade de atuação, mas também dar a responsabilidade e cobrar os resultados. Os funcionários devem se sentir orgulhosos do trabalho que fazem e assim haverá a vontade de permanecer na empresa. Se tratar as pessoas como pouco competentes, elas responderão dessa forma”, ensinou.

Aos novos profissionais, deixou uma lição. “Eles devem gostar do que fazem e ser ambiciosos. Isso não significa querer ganhar tudo e a qualquer custo, mas achar um ângulo, uma sacada para se destacar. Conheço muitos sommeliers bem-sucedidos que nunca participaram de um concurso ou escreveram um livro. Não tente ser o próximo ou o novo Hugh Johnson, ou o novo Ronaldinho. Encontre sua própria forma de se destacar, invista em sua carreira e tenha dedicação e foco”, ensinou. Colegas sommeliers, sigamos esses ensinamentos deixados por Basset. Com certeza, ainda mais no Brasil, ajudaremos a melhor servir os consumidores e ajudar a multiplicar o bom e saudável hábito de beber vinhos.