Tora afora
A disparada do dólar desde o final do segundo semestre doano passado tem deixado alguns setores da economia brasileira de cabelos em pé.Mas a verdade é que, para a indústria da madeira, a desvalorização do real nãopoderia ter vindo em melhor hora. Dependente principalmente das exportações, osetor sofreu com a crise internacional que eclodiu em 2008. Manteve-se de pénos últimos anos muito por conta de uma economia doméstica aquecida pelo boomda construção civil e do consumo – cenário que começou a ruir exatamente em2014, quando a moeda e a economia norte-americana voltaram a se fortalecer. Nãofosse tamanha reviravolta, que direcionounovamente a indústria da madeira para o exterior, a holding Tree Florestal nãoestaria comemorando números tão positivos: no primeiro semestre, a receita comexportações da Tree Trading, braço de comercialização de semimanufaturados demadeira, cresceu 35% – dez pontospercentuais acima do esperado. Com sede em Curitiba (PR), a empresa, criadapelo Fundo Ático Florestal em 2012, destina 95% dos seus produtos para omercado externo.
Os valores absolutos não são divulgados, mas a estimativa éque a Tree Trading tenha um aumento de até 25% neste ano na receita comexportações. Para isso, a empresa contatambém com a recuperação da economia dos Estados Unidos, principalmente naconstrução civil. O país é o maior mercado comprador dos produtos dacompanhia, que incluem, entre outros, chapas de compensados, toras, madeiraserrada e boards. Juntamente com Emirados Árabes, Arábia Saudita e México, osEstados Unidos são responsáveis por 70% do faturamento. Com os olhos cadavez mais voltados ao exterior, a Tree agora quer alcançar o mercado chinês. “Não é um mercado que exploramos bem, nos falta‘braço’. Mas tem um potencial grande para avançarmos”, analisa Marco Tuoto,diretor da Tree Florestal. Tuoto destaca que há escassez de madeira no mundo,pois muitos países são dependentes de importações, oferecendo, portanto,territórios passíveis de conquista pela companhia paranaense.
Por isso, os investimentos da Tree Florestal nos últimosanos não foram pequenos. Logo que foi fundada, ela adquiriu 49,9% da Remasa,tradicional reflorestadora paranaense. Com um aporte de R$ 200 milhões, emsetembro passado, comprou a Donnet e integrou as duas fazendas aos ativos daRemasa, aumentando a produção de 20 mil toneladas de toras ao mês para 50 mil.Até o final do semestre, deve acrescentar uma nova empresa focada na produçãode eucalipto – espécie, que até o momento, corresponde somente a 4% daprodução.
Além disso, a divisão Tree Trading faz o meio de campo entrepequenos e médios produtores, que compõem a maioria da indústria madeireiranacional e compradores no exterior. “O mercado é muito pulverizado noBrasil, principalmente de produtos de madeira serrada e compensado. Então,atuamos junto dessas empresas que não têmcapacidade própria de exportação”, explica Tuoto. A Tree Trading oferece aindao serviço de gestão florestal para terceiros. A companhiaé responsável, por exemplo, pela administração, do plantio ao desbaste, dafloresta de 35 mil hectares de eucalipto que abasteceráa usina termelétrica a base de biomassa Campo Grande BioEletricidade, na Bahia.
Da porteira para dentro
A alta do dólar e a recuperação da construção civil nos EstadosUnidos devem garantir um ciclo positivo para a indústria da madeira brasileiraaté 2017. Mas, ainda assim, há muito com o que se preocupar quando se examina ocenário interno. Ainda que pouco dependente do mercado doméstico, a TreeFlorestal é desafiada pelo alto custo deprodução no país. Para exemplificar airracionalidade logística brasileira, Marco Tuoto lembra que a empresa pagaigual valor para levar uma carga de Fraiburgo, em Santa Catarina, ao porto deItajaí (um trajeto de cerca de 330 quilômetros)e deste mesmo porto até os Estados Unidos. “É um absurdo. Às vezes, o ganho detoda uma operação pode ir embora por uma escolha errada na logística”, desabafa. “E a energia elétrica, que aumentou 120%nos últimos 12 meses? O dólar está positivo para exportação, mas o custointerno explodiu”, reclama.
Tuoto salienta que o Brasil é um dos países mais avançadosno manejo e no uso de tecnologias em florestas, mas asdespesas impedem que a indústria da madeira trabalhe com margens maiores e sejaainda mais forte no cenário internacional. A espécie plantada e comercializadapela Remasa, a pinus taeda, é originária dos Estados Unidos. No entanto,nos estados do Paraná e Santa Catarina, onde estão localizadas as fazendas dacompanhia, o cultivo desse tipo de árvore émuito mais eficiente. “Aqui cresce três, quatro vezes mais rápido”, explicaGilson Geronasso (foto), diretor vice-presidente da Remasa. “Mas todo esteganho genético que temos aqui se perde [devidoaos altos custos]. Somos eficientes daporteira pra dentro, e perdemos da porteira pra fora”.
Com a incorporação das duas fazendas no ano passado, aRemasa dobrou sua área de plantio, o que deve dobrara receita, chegando a R$ 54 milhões neste ano,e colocá-la entre as três maiores produtoras independentes de pinus no país. Amaioria da produção é destinada a serrarias, laminadoras e fábricas decompensado locais. Geronasso sente que as empresas ainda estão num processo dereorientação das vendas do mercado interno para o externo. “Não é uma mudança rápidade se fazer”, atesta. Por essa razão, os desbastes da Remasa acompanham ademanda. “Se tem um polo que está mais aquecido, fazemos os desbastes nasfazendas mais próximas a ele. E assim vamos trocando quando necessário”,detalha. Por esse motivo, também, a área comercial da Remasa faz questão de semanter próxima de seus clientes, com visitasfrequentes às fábricas e conversas com os administradores. É uma maneira deficar atenta ao ritmo de produção do mercado e se mostrar aberta para atender asdemandas específicas de cada cliente. “Se melimito a registrar encomendas por telefone ou por e-mail, não fico sabendo oque o mercado quer e precisa. Por isso a importância de visitar clientes. Esse pode ser um diferencial a nosso favor quando secomercializa commodity”, observa César Ferreira, gerente de operações daRemasa.
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