Santa Clara: muitos sabores e um único ideal

Tudo começou com uma viagem. Ou melhor, um retorno: à Itália. Em 1909, Fausto Breda – descendente de imigrantes vindos do Vêneto – viajou pelo Atlântico no sentido oposto ao percurso que sua família fizera no século XIX. Mais do que conhecer sua terr...
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Tudo começou com uma viagem. Ou melhor, um retorno: à Itália. Em 1909, Fausto Breda – descendente de imigrantes vindos do Vêneto – viajou pelo Atlântico no sentido oposto ao percurso que sua família fizera no século XIX. Mais do que conhecer sua terra de origem, o que ele queria era aprender técnicas de produção. Seu objetivo era produzir, no Brasil, queijos com a mesma qualidade e tradição dos que eram feitos na Itália. 

Fausto Breda havia nascido na região de Santa Clara, hoje Carlos Barbosa – na época, parte da colônia Santa Maria da Soledade. Desde sua chegada lá, as famílias com descendência italiana tinham o hábito de se organizar em associações. Primeiro, como forma de manter os costumes, a cultura e a religiosidade. Depois, como forma de construir, em conjunto, a prosperidade da região – quando as associações se transformaram em cooperativas de negócios. A produção de laticínios era uma vocação que vinha de berço. No início, o leite era levado às fábricas em latas, no lombo de burros. Depois, o queijo ia para as lojas e mercearias em comboios de carretas. 

Na Itália, Fausto aprimorou suas técnicas, comprou utensílios e uma caldeira especial para leitaria. Trouxe os materiais e os conhecimentos para o Brasil e, em 1911, tornou-se o primeiro queijeiro da Latteria Santa Chiara, fundada por 17 agricultores das regiões de Santa Clara, Torino e Estrada Real. Em um lote com pouco mais de 10 mil metros quadrados, os associados construíram um fabriqueta de queijos e manteiga. Foi a semente daquela que hoje, 101 anos depois, é a mais antiga cooperativa de queijos em atividade no país. 

O objetivo inicial da Latteria era aproveitar o excedente da produção de leite das propriedades – mas a ideia deu tão certo que a fabricação de queijos logo se tornou a principal ocupação dos associados. Só em 1977 seria forjada a sua grande marca: Santa Clara. Entrando em seu segundo século de existência, a empresa conta, hoje, com a força de 4,6 mil famílias associadas e cerca de 3 mil produtores de leite. Seus queijos colecionam prêmios. E sua marca aparece há anos entre as mais lembradas pelos consumidores gaúchos, que já se acostumaram à clássica imagem da Vaquinha, sua mascote. Além dos laticínios, a marca da Cooperativa abrange leites longa vida, frigoríficos e uma fábrica de rações. Tudo isso complementado por postos de recebimento e resfriamento de leite, seis centros de distribuição, uma farmácia, uma cozinha industrial, nove supermercados e nove mercados agropecuários – uma rede de unidades que se estende por 13 municípios gaúchos e emprega cerca de 1,5 mil funcionários. 

Tradição e evolução 

Até hoje, as receitas, os borrões e o passaporte do primeiro queijeiro, Fausto Breda, estão guardados nos arquivos da Santa Clara. O cuidado em manter as tradições e preservar a memória andam de mãos dadas com o ímpeto da inovação – que levou a Santa Clara a protagonizar vários momentos na evolução da cadeia leiteira no país. Em 1954, por exemplo, a Cooperativa iniciou o trabalho de inseminação artificial do seu rebanho leiteiro – a primeira empresa no Rio Grande do Sul a investir nessa tecnologia. A preocupação com a matéria-prima dos queijos, por sinal, é uma das características que conferem aos produtos da Santa Clara um valor e um sabor únicos. Em 1991, a Cooperativa passou a pagar seus fornecedores com base na qualidade do leite – um incentivo para que os produtores buscassem a excelência na matéria-prima. 

Todos esses cuidados em dar um diferencial aos produtos foram premiados em 1999, com o certificado ISO 9000, o primeiro a ser concedido a uma cooperativa e indústria de laticínios no Rio Grande do Sul. A distinção aumentou ainda mais a participação da Santa Clara em seu segmento – e incentivou a busca de novos pioneirismos. Com um mix de produtos que inclui mais de 240 itens, entre laticínios e frigorífico, a Santa Clara inovou de novo em 2008, com o lançamento do Minas Frescal SanBIOS, o primeiro queijo do Brasil com micro-organismos probióticos, que ajudam a regular a flora intestinal. 

Metamorfoses 

A tradição e o espírito se mantêm os mesmos – mas a razão social da Cooperativa mudou diversas vezes ao longo dos anos. E, com a denominação, a logomarca também passou por diversas versões. Um ano após o surgimento da associação, a Latteria Santa Chiara se transformou em Cooperativa de Laticínios União Colonial. Nessa época, o selo mostrava uma coroa de louros envolvendo um caloroso aperto de mãos, símbolo do cooperativismo. A logomarca de 1973 e 1974, em vermelho e preto, utiliza as letras iniciais do nome – Cooperativa de Laticínios União Colonial Ltda. – mantém o mesmo princípio de união de forças.

Já em 1975, com a fusão com a Cooperativa Agrícola Carlos Barbosa, fez nascer a Agroclara. O antigo selo foi substituído por dois pinheiros verdes, irmanados, com as copas apontadas para cima, representando a ética corporativista, a vontade de crescer, subir e inovar. Detalhe: embora a empresa tenha passado por tantos nomes diferentes, a marca Santa Clara sempre apareceu em todos os logotipos. A explicação é simples: foi na comunidade barbosense de Santa Clara que a Cooperativa deu início aos seus trabalhos – além é claro da religiosidade dos fundadores da Latteria original. 

A denominação Cooperativa Santa Clara Ltda. surgiu apenas em 1977. E a logomarca passou por nova alteração. O novo – e definitivo – nome foi envolto em um arco abaulado, amarelo e laranja, com o formato de um queijo cortado ao meio. Mas o símbolo dos dois pinheiros permaneceu pairando sobre as letras, transmitindo sua mensagem de crescimento e união. Mensagem que, por sinal, foi seguida à risca nos anos seguintes. 

Ainda em 1977, a Santa Clara deu mais um passo em sua expansão: incorporou a Cooperativa Veranense de Cereais Ltda., marcando presença no município de Veranópolis. Em 1983, foi a vez da Cooperativa Agrícola Boa Vista, de Arcoverde, integrar-se ao já volumoso e possante corpo da antiga Latteria. Em 1988 e 2003, respectivamente, ocorreram as incorporações da Cooperativa Agrícola Mista Cotiporanense, de Cotiporã, e da Cooperativa de Laticínios São Vendelino, do município de mesmo nome.

No rodapé de toda essa história, há outro elemento visual automaticamente associado à Cooperativa: a já clássica Vaquinha. Criada em 1998, ela é usada em rótulos e em materiais de divulgação. Em 2005, quando a cooperativa iniciou a comercialização do Leite UHT, a Tetra Pak criou uma embalagem projetada especialmente para destacar o mascote. O sucesso foi tanto que o novo produto acabou ganhando o apelido de “leite da Vaquinha”. O simpático bichinho já passou por três encarnações diferentes e, com o tempo, ela foi ficando mais rechonchuda e cintilante. Já o sorriso permanece o mesmo – e, nisso, a Vaquinha é também um símbolo. Pois a própria trajetória da Santa Clara já demonstra: em uma história de sucesso, a renovação é constante e muitas, muitas coisas mudam. Mas outras – como a vontade de fazer o melhor, sempre – permanecem iguais.


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Sábado, 14 Dezembro 2024

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