Bradesco compra operação brasileira do HSBC, quinta maior empresa do Sul
O HSBC confirmou na madrugada desta segunda-feira (3) a venda da operação brasileira para o Bradesco, por US$ 5,2 bilhões (R$ 17,8 bilhões, no câmbio de sexta-feira). O valor do negócio ficou acima do esperado pelo mercado, que projetava uma proposta de ao menos US$ 4 bilhões.
A notícia foi divulgada no relatório que acompanha o balanço da companhia. O HSBC, quinta maior empresa do Sul segundo o ranking GRANDES&LÍDERES – 500 MAIORES DO SUL, publicado por AMANHÃ em parceria com a consultoria PwC, reiterou que pretende manter uma presença modesta para o atendimento a empresas no Brasil. De acordo com a nota, HSBC e Bradesco chegaram a um acordo na última sexta-feira (31). O Bradesco também publicou fato relevante sobre a negociação. Segundo o banco, “a aquisição do HSBC no Brasil possibilitará ganho de escala e otimização de plataformas, com aumento da cobertura nacional, consolidando a liderança em número de agências em vários estados, além de reforçar sua presença no segmento de alta renda", entre outras sinergias.
A compra aproxima o Bradesco do Itaú, primeiro colocado no ranking por ativos entre os bancos privados. O Bradesco perdeu o posto para o Itaú em 2009, quando este adquiriu o Unibanco. Em dezembro, o HSBC possuía R$ 168 bilhões em ativos, o equivalente a 2,2% do total do sistema financeiro brasileiro. Com 853 agências, o banco está presente no Brasil desde o fim dos anos 1990, com a compra do Bamerindus.
A falta de escala do negócio e o baixo grau de abertura da economia levaram a instituição a deixar o país. A intenção original do HSBC era se desfazer apenas do negócio de varejo, mas o Bradesco foi contra e insistiu em ficar com toda a unidade. O HSBC já repatriou os funcionários brasileiros que estavam no exterior e agora terá de criar uma nova estrutura no país. O banco pretende manter o atendimento a grandes empresas nacionais.
Avaliação do mercado
Segundo os analistas do Credit Suisse liderados por Marcelo Telles, a compra foi positiva. "A transação faz sentido e o tamanho importa: acreditamos que a transação faz sentido estratégico e financeiro para o Bradesco. Ela representa uma oportunidade para implantar de forma mais eficaz o excesso de capital que estava propenso a se acumular à luz da perspectiva de crescimento de crédito mais pobre nos próximos anos. Em nossa opinião, há sinergias suficientes de maior escala para fazer com que a transação positiva ante o preço pago", avaliam em relatório.
Como previsto por eles anteriormente, a estimativa é de sinergia de R$ 6 bilhões, principalmente com o corte de custos. A transação poderia render até um VPL (Valor Presente Líquido) de R$ 12,3 bilhões (9% do valor de mercado Bradesco) e acréscimo de ganhos acréscimo de até 12,5% no longo prazo. Em relação aos riscos, o Credit ressalta que eles são inerentes a qualquer fusão e aquisição. Porém, na opinião dos analistas, essa operação leva um menor grau de risco em relação a outras grandes, como o Santander/ABN Amro e Itaú/ Unibanco. Isso porque: i) é uma aquisição, não uma fusão, tanto do ponto de vista teórico e prático; ii) o HSBC é proporcionalmente um ativo menor; iii) não há controle compartilhado e as decisões são totalmente tomadas no Brasil; iv) o Bradesco tem uma plataforma de tecnologia da informação mais bem estabelecida em relação a outros bancos na época de aquisições, o que deve facilitar a migração de clientes do HSBC em sistemas do Bradesco; e v) avaliação de que as diferenças culturais podem ser menos pronunciadas. Os principais riscos estão relacionados com possíveis restrições por reguladores que poderiam limitar a capacidade de reduzir custos na velocidade desejada e o impacto da desaceleração econômica do Brasil na carteira de crédito do HSBC.
Índices sólidos
O Credit avalia ainda que a aquisição do HSBC Brasil não representa uma ameaça para a sólida base de capital atual do Bradesco, apesar da redução esperada no curto prazo. Na verdade, dado o excesso de capital que era propenso a ser criado, o negócio é, na opinião do banco, uma oportunidade para alcançar retorno sobre o capital excedente. Agora todos os olhos se voltam para a qualidade dos ativos em meio ao ambiente macroeconômico fraco atual e a visão negativa sobre a evolução da qualidade dos ativos para os próximos 18 meses. Dessa forma, a qualidade da carteira de crédito HSBC merece a devida atenção.
A economia em uma conjuntura ruim também é vista com preocupação pelos analistas do BTG Pactual, onde está cada vez mais difícil implementar capital com um nível de rentabilidade elevado (ajustado pelo risco), mesmo para as organizações com alto desempenho como Itaú e Bradesco. "Dito isto e, embora um pouco caro, a aquisição, a nosso ver, faz muito sentido a partir de um ponto de vista estratégico", ressaltam, também destacando as significativas sinergias já que o banco brasileiro possui uma escala muito maior e uma equipe de gestão de alta qualidade. O Bradesco espera que haja lucro por ação já em 2017 e está trabalhando com uma pequena diluição do indicador em 2016, "o que parece um desafio, em nossa opinião, dado os indicadores muito baixos de rentabilidade do HSBC", avalia o BTG.
Ruim para o Santander
O acordo também faz sentido porque ele fecha as portas à concorrência adicional, diz o BTG, especificamente para o Santander Brasil (SANB11) fazer a aquisição. Segundo o BTG Pactual, provavelmente foi a razão pela qual o preço pago foi acima das expectativas do mercado. "Em nossa opinião, esta foi provavelmente a última oportunidade do Santander para ganhar escala no Brasil através de uma aquisição. Se o negócio do Bradesco-HSBC negócio foi negativo para o Santander, acreditamos que foi marginalmente positivo para a Cielo (CIEL3) já que o HSBC Brasil é um parceiro importante banco do adquirente. Se Itaú ou Santander adquirissem o HSBC, seria mais provável que a Cielo perdesse a parceria para um concorrente", afirma o BTG.
Veja mais notícias sobre Empresa.
Comentários: