A última obra do editor Henrique Kiperman
O sepultamento de Henrique Leão Kiperman (foto) neste domingo (17), em Porto Alegre, teve, para além da consternação no meio editorial, um efeito que pode ser mais transformador no âmbito da Administração que alguns dos best-sellers que seu Grupo A editou com o selo Bookman, que identifica as obras voltadas para a literatura de gestão e negócios. Tudo virava livro nas mãos de “Seu Henrique”, menos a forma como ele se colocou acima do personalismo que, em muitas empresas, engessa mudanças e aprisiona o negócio à visão particularíssima do fundador, que blinda suas convicções com base em um retrospecto de sucesso.
Sucesso, Henrique Kiperman fez, e muito, desde que varou o interior da Região Sul em meados dos anos 60 carregando livros de medicina para vender. Da mala de livros – que ele adaptou para servir de assento quando precisava de algum descanso –, Henrique tirou o sustento e o sonho de ser livreiro. Quando conseguiu, teimou que haveria de dar um passo à frente e editar seus próprios livros. Era o começo da Artes Médicas Sul, depois Artmed, em Porto Alegre – cidade de Leda, a gaúcha que o levou de sua Curitiba natal.
A recusa em ser um editor regional o levou a criar uma estrutura nacional e a peregrinar pelas mais importantes feiras editoriais do mundo em busca de temas e autores relevantes para publicar no Brasil, o que potencializou seus negócios. Então, quando tudo parecia ir muito bem, e ia, Henrique transferiu poder e responsabilidade ao filho Celso, seu sucessor na presidência, e à filha Adriane, que assumiu a direção editorial do grupo. Em nome da perenidade da companhia, abriu passagem para a segunda geração. Deu carta branca para Celso se desprender de um de seus dogmas de fundador, o culto apaixonado ao livro impresso. A Artmed virou Grupo A, o slogan “Livros para uma melhor qualidade de vida” deu lugar a “Conhecimento que transforma” e a história de mais de 4 mil obras lançadas no Brasil passou a abrigar um novo capítulo – as plataformas digitais de transmissão de conhecimento, hoje com mais de um milhão de alunos.
Quando faleceu, neste final de semana, aos 79 anos, Henrique legou aos sucessores não um problema (que em muitas companhias pode ser resumida na pergunta “E agora?”) e sim um projeto – avançar na oferta de conteúdos relevantes da área técnica, científica e profissional com coragem para desafiar dogmas, ainda que em algum momento eles tenham parecido inquestionáveis. É um tema que costuma ser muito do agrado da terceira geração.
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