1989: trinta anos depois

Os dias que vivemos nessa largada de 2020 estão assinalando grosso modo os 30 anos da queda de algumas das principais ditaduras autoproclamadas comunistas do Leste da Europa. Nesse contexto, nunca será demais rememorar o encadeamento dos fatos e as p...
1989: trinta anos depois

Os dias que vivemos nessa largada de 2020 estão assinalando grosso modo os 30 anos da queda de algumas das principais ditaduras autoproclamadas comunistas do Leste da Europa. Nesse contexto, nunca será demais rememorar o encadeamento dos fatos e as peculiaridades de cada derrocada. 

A grande especificidade a reconhecer é que o movimento como um todo começou na Hungria. Um homem chamado Németh foi o grande artífice da livre circulação de pessoas do Leste para o Ocidente. Fez isso quando, alegando falta de recursos, segredou a Gorbachev que pretendia desativar a cerca eletrificada que separava seu país da Áustria. O líder russo não criou objeções e sinalizou que nada tinha a ver com aquilo. Mais importante, deixou claro que não se repetiria a cena de 1956, quando as tropas do Pacto de Varsóvia entraram em Budapeste para reprimir um surto libertário. 

Com a difusão da boa nova e o televisionamento deliberado e propositado da destruição da cerca a golpes de alicate, os turistas alemães orientais que acorriam em peso para passar férias de verão no lago Balaton, usufruindo das benesses do socialismo magiar, entenderam o recado e, dali, começaram a escapar para o Oeste. Tudo isso para extremo desespero do líder Erich Honecker, da RDA, um linha dura que fingia acreditar na quimera de seu parque temático de socialismo. 

Honecker tentou persuadir seu amigo e assemelhado Janos, da Tchecoeslováquia, a impedir a passagem dos alemães orientais para a Hungria. Daí resultou que Praga trouxe o movimento insurrecional para suas ruas visto que os jardins da embaixada da Alemanha Federal foram ocupados por refugiados em busca de asilo. Não tardou para que então crescesse o movimento pacífico que levaria em pouco tempo o dramaturgo Vaclav Havel ao poder, no que ficou conhecida como a "Revolução de Veludo". 

Enquanto isso, ao cabo de um movimento que já se tornara evidente desde a chegada de um cardeal polonês ao papado, Lech Walesa (foto) selava uma solução de compromisso com o general Jaruzelski, ele que vinha à frente do movimento Solidariedade, nascido nos estaleiros de Gdansk. Ora, se a Rússia fechava os olhos para os rumos da Polônia, que pelos padrões da geopolítica sempre lhe causara preocupações, era sinal de que os outros países podiam se sentir liberados a optar pelo seu destino político – e até pela Europa.   

O único contraponto sangrento de que teríamos notícias – e como – foi quando da deposição relâmpago de Nicolae Ceausescu da presidência da Romênia. O movimento contra o estado policial de terror começou nessa cidade de onde escrevo hoje por conta da transferência arbitrária de um religioso e, semanas mais tarde, o ditador e a esposa foram julgados num rito sumário – com indícios de golpe de estado –, sendo fuzilados no Natal de 1989. 

As consequências desse ano fértil em acontecimentos ainda estão bem vivas nessa parte do mundo. Nunca será demais enfatizar que, a despeito da força de arrasto dos povos que tomaram as ruas, o líder russo Mikhail Gorbachev será sempre um nome a ser lembrado. A ele voltarei em breve.

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Sexta, 29 Março 2024

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