Ghosn: um ano depois
Já estamos a caminho do décimo-terceiro mês da prisão no Japão do executivo brasileiro Carlos Ghosn – que também tem cidadania francesa e libanesa. Crescem as evidências de que a Nissan alimentou de provas a Procuradoria do Japão em contrapartida a um pacote de delação premiada que beneficiou pelo menos dois altos executivos, que foram co-artífices de uma verdadeira armadilha voltada estritamente para desfazer a aliança Renault-Nissan-Mitsubishi sob os auspícios de um núcleo de poder e gestão, sediado na Holanda, em que Ghosn tinha a prerrogativa da palavra final.
Do tripé de passaportes que Ghosn coleciona, o libanês é o único que lhe tem valido apoio incondicional nessa quadra negra que ele enfrenta no Japão. Mas é um país sem relevância econômica. Da parte dos franceses, apesar das visitas ocasionais do embaixador e de um telefonema de Macron ao premiê nipônico, fica patente que há ressentimento vis-à-vis um outsider que, embora batizado nas melhores instituições gaulesas, não se integrou às panelinhas de administradores egressos das Grandes Escolas. Ghosn era espaçoso demais para a própria França, o que reforçou um viés de amargura complexada.
Da parte do Brasil, país onde Ghosn nasceu, e onde residiu quando esteve à frente da Michelin, é indesculpável que não tenhamos levantado a voz em defesa de um de nossos filhos mais diletos e brilhantes. Sob nenhuma hipótese o personalismo ou os eventuais pecadilhos cometidos por Ghosn – ainda carentes de qualquer comprovação –, deveriam justificar esse encarceramento odioso num país onde, há 20 anos, ele era parado em toda esquina para autógrafos. A manobra solerte das autoridades para evitar que a Nissan e a Renault se unissem se traduziu num ato de pirataria indesculpável.
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