É de expectativa que o mundo vive
Chega em boa hora a notícia da privatização de quatro aeroportos brasileiros. A saber, Fortaleza, Salvador, Florianópolis (foto) e Porto Alegre. Conversando no almoço de hoje com um experiente português, talvez mais versado nas lides do Brasil do que eu mesmo, ele observou que isso poderia sinalizar a retomada da confiança na economia brasileira. Afinal, é de expectativa que o mundo vive. Ora, na medida em que "players" do padrão da Fraport, Vinci e Zurich apostam suas fichas em nosso potencial – com especial louvor para o ágio alcançado pelas instalações da capital gaúcha –, se abre mais uma porta para a esperança. Tudo isso, é claro, de par com a condução discretíssima da equipe econômica que, sem invencionices maiores, consegue manter o barco em bom curso. Assim, poderemos vir a avistar terra forme e dar por finda essa delicada travessia. É isso o que desejam os homens de boa vontade.
Nesse contexto, confesso que não tenho quaisquer problemas em ser acusado de "privatista". Exceção feita a casos raros – cita-se sempre a Embrapa nessa relação – boa parte dos empreendimentos estatais são fadados a tremenda malversação de recursos. É claro que isso começa com as nefandas indicações políticas dos titulares das empresas. De rabo preso com o padrinho cuja postulação afiançou, a gestão tem tudo para nascer enviesada, parcial e paroquial. O passo seguinte é que as posições mais suculentas , aquelas que dão ao titular acesso a proventos mais polpudos, sejam atribuídas à raia miúda do aparato político-partidário. Qual é a empresa que pode andar bem numa circunstância dessa? Do dia a dia dos chefes, ademais, consta uma pauta de articulação e administração de peditórios que, por melhor que seja o gestor, faltará tempo para dar foco ao que assim merece.
Se isso nos parece de uma clareza cristalina, há de se deplorar que o sectarismo de alguns setores de nossa vida pública, volta e meia se saiam com discursos anacrônicos. Estando em Portugal, me refiro especialmente à ex-presidente Rousseff. Tanto na Suíça quanto aqui, não hesitou em atribuir às sinistras forças neoliberais seu destronamento da posição que, a olhos vistos, tinha tão poucas qualificações para ocupar. Se para ela e alguns serve de consolo atribuir o esfacelamento do governo (sic) às tais correntes conservadoras – as mesmas que destravam hoje os leilões de privatização –, isso não deve refrear o bom andamento dessas ações. Se a Petrobras já era fonte de escândalos pontuais desde a década de 1980, é inegável que o furor de arrecadação da máquina populista espremeu até onde pôde as partes que lhes couberam nesse imenso latifúndio. Era insustentável e calamitoso o que vinha acontecendo.
O sucesso do leilão dos aeroportos, portanto, é só um pequeno passo no muito que ainda precisa ser feito para que desoneremos o contribuinte brasileiro do ônus dos mastodontes estatais. Nesse contexto, é inestimável o papel da Lava Jato na restauração da credibilidade no país. Por mais que casuísmos possam estar em curso – o que não deixa de ser parte do jogo político – a verdade é que o Brasil se torna um país mais legível. Na Euroshop de Düsseldorf, a que fui semana passada, fiquei perplexo com a quantidade de empresas "world class" que, tendo unidades fabris em dezenas de países, se contentam com um pífia representação comercial no Brasil. Com um sentimento nítido de frustração, alegam quase sempre que a burocracia sufoca e que as incertezas do horizonte acabam por desestimular uma ação mais ostensiva. O Brasil precisa mudar. Dentro do possível, estamos avançando. Oxalá não voltemos à UTI. Levaríamos muito tempo para sair.
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