Na Drogaria Nissei só não tem sushi
O empresário paranaense Sergio Maeoka quer levar às últimas consequências o conceito de drugstore amplamente conhecido do consumidor de conveniências norte-americano. Desde 30 de junho, data em que o grupo completa três décadas de existência, as 255 lojas da Drogarias Nissei se transformaram em minimercados, onde é possível comprar quase tudo que não seja produto in natura. Até remédio.
Remédio, aliás, também se tornou conveniência no novo layout. Aquilo que não tiver tarja vermelha ou preta está ao alcance do cliente em balcões posicionados no meio da loja, fora do aquário de vidro destinado ao que exige prescrição médica. Analgésicos, antigripais, anti-inflamatórios, colírios e outros medicamentos que o público conhece e utiliza rotineiramente estão no self service, com um farmacêutico à disposição para orientar a compra. O mobiliário foi projetado com cor diferente e sinalização aérea, identificando o lugar dos produtos destinados à saúde.
As farmácias de fachada pintadas de amarelo, que povoam o Paraná, com mais de 30% do market share, e já se espalham por cidades do interior de São Paulo e Santa Catarina, aumentaram em 20% o espaço para exposição e circulação, com a redução da área restrita. As prateleiras passaram a acomodar alimentos semiprontos – como miojos, risotos, pizzas e sanduíches refrigerados e congelados. E uma linha de alimentos funcionais e suplementos. Também estão lá produtos de limpeza.
“Queremos suprir 90% das necessidades do dia a dia do consumidor”, projeta Maeoka, que desenhou o novo modelo inspirando-se em redes como as farmacêuticas americanas Walgreens e CVS. Mas também olhou para a mexicana Oxxo, que pertence ao grupo Femsa e que partiu da venda de refrigerantes Coca-Cola para incorporar um mix capaz de resolver as necessidades domésticas de higiene, limpeza e alimentação. No Brasil, só a rede mineira Araújo tem a mesma dinâmica. “Eles vendem até sela de cavalo”, conta Maeoka.
O empresário tem viajado muito para garimpar informações sobre tendências e se convenceu de que o conforto e a rapidez é que fidelizam novos clientes. “Nos Estados Unidos, as drugstores são referência. No Canadá, é enorme a expansão desse tipo de serviço. O Japão também tem muitas lojas do gênero. Ninguém quer perder tempo comprando medicamento, shampoo, comida. As pessoas querem resolver tudo num lugar só e rapidamente”, enumera, com entusiasmo.
Novo modelo
A remodelação atingiu todas as lojas da rede, desde as menores até as que funcionam 24 horas. Custou, ao todo, R$ 6 milhões – recurso previsto no plano de investimento de R$ 35 milhões que incluiu a abertura de 20 unidades em 2015 e de mais 20 neste ano. “Já concluímos essa fase. Se der tempo, ainda abrimos mais alguma coisinha em 2016”, declara Maeoka, explicando sua opção por expandir enquanto o grosso da economia se retrai: “Se você vende o mesmo produto em uma economia meio parada, a tendência é de a venda estagnar. A única maneira de aumentar faturamento é oferecer mais serviços ao consumidor. E a vantagem das farmácias é que elas têm horário mais estendido, trabalham sábado e domingo, oferecem estacionamento e facilidade de acesso porque estão em cada esquina”, explica.
Esse movimento em direção ao cliente de supermercados é parte da estratégia da Nissei para avançar 12% neste ano, enquanto o setor projeta 8% de crescimento. No ano passado, o faturamento da rede cresceu 8%, em relação a 2014, chegando a R$ 1,3 bilhão. O plano de expansão para 2017 segue acelerado, com a previsão de 30 lojas novas que custarão mais R$ 35 milhões. Se tudo correr como a Nissei espera, até 2020 o faturamento deve saltar 60% em relação ao projetado para este ano.
É fato é que as coisas não vão mal para as grandes redes do varejo farmacêutico nacional. Elas faturaram R$ 6 bilhões nos dois primeiros meses de 2016, de acordo com a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). O montante é 13,9% superior ao registrado no mesmo período de 2015. No acumulado dos últimos 12 meses, o movimento foi de R$ 36,6 bilhões, um aumento de 11,2% na comparação com o período anterior. O envelhecimento da população representa um estímulo natural para o consumo e responde pela resiliência do setor farmacêutico. As grandes redes, por sua vez, têm alta eficiência na gestão de estoques e na diversificação da oferta de produtos. Além disso, pela abrangência geográfica, tornam-se um canal de fácil acesso para a população.
Os dados da Abrafarma também mostram que a categoria de não medicamentos (artigos de higiene, perfumaria e bem-estar) é a grande responsável pelo desempenho positivo em meio à crise. Até fevereiro, as vendas desse segmento somaram R$ 2,1 bilhões, 35% do total comercializado no período. Esse valor é 14,2% maior que o dos dois primeiros meses de 2015. É nessa categoria, associada a todo tipo de conveniência, que a rede de Curitiba projeta um acréscimo de 7% para 10% de participação nas vendas.
Para enfrentar o agravamento da crise econômica e encarar o acirramento da concorrência – com a entrada no Paraná de redes como a gaúcha Panvel, que acaba de inaugurar a 31ª loja em Curitiba –, Maeoka antecipou providências que parte dos empresários só adotou diante do sinal vermelho da depressão. “Todo mundo achava que a crise viria em 2015, mas o tombo foi tão grande que o país se perdeu. Nós tínhamos feito um ajuste muito forte em 2014, e no ano passado já estávamos procurando uma saída, que encontramos na expansão, embora num ritmo menos forte, com mais cuidado”, recorda. Maeoka não revela números, mas garante que repassou todos os processos, cortou custos, demitiu pessoal e fechou lojas que apresentavam prejuízo. “Quando a Falconi chegou, eu já tinha feito praticamente tudo”, revela, referindo-se à consultoria contratada para reestruturar a operação. Hoje, constata que a tendência é consolidar os resultados projetados. “Arrumei a casa. Agora tenho de abrir loja nova. Se eu ficar parado, a concorrência passa por cima”, avalia. A ampliação, a propósito, seguirá por um bom tempo dentro das divisas dos três Estados já ocupados, mas principalmente em São Paulo. “Ainda tenho três ou quatro anos de crescimento em São Paulo, que responde por 30% do nosso mercado”, conta.
Público predominante
A despeito da origem nipônica de Maeoka, descendente de imigrantes que se fixaram em Santa Isabel do Ivaí, no interior do Paraná, as lojas Nissei não estão vendendo sushi e outros pratos da culinária japonesa. É que não está nos planos incluir no mix produtos in natura, como carnes não processadas, verduras, legumes e frutas. “Posso vender um bife à milanesa congelado”, cogita. O executivo também não tenciona desenvolver uma linha própria de artigos de higiene e perfumaria, caminho percorrido por vários concorrentes. “Não acho vantajoso. É muito difícil desenvolver produtos melhores do que os da indústria tradicional. Não vou importar escova da China para colocar a minha marca”, decreta.
Seus projetos vão ao encontro de públicos que já estão identificados com a rede. É o caso do atendimento aos idosos e às mulheres, para quem são direcionados os maiores esforços de marketing. Em março, aproveitando o Dia Internacional da Mulher, a Nissei coloca em liquidação a área de beleza e perfumaria, com diferentes mecânicas de descontos e vantagens. É uma espécie de Natal para a rede em resultado de vendas. O Clube da Melhor Idade oferece descontos especiais para quem tem mais de 55 anos e se torna sócio. Mas não só. Os 500 mil associados têm à disposição um pacote de atenções que inclui passeios semanais, bailes temáticos, aulas de alongamento e coral. Para esse público, a aposta é oferecer mercadorias de alta performance que tornem a vida mais confortável e segura. “Mais para frente, vamos buscar acessórios que complementem o tratamento de algumas patologias e necessidades, como meias e joelheiras. Na África do Sul, me impressionou a quantidade de produtos para os mais velhos. Aqui no Brasil esse hábito de consumo ainda tem de ser desenvolvido. Mas a terceira idade será nosso público predominante”, sinaliza.
O próximo tiro de longo alcance vai ser dado em 2017. O valor do investimento está definido, mas Maeoka não o revela, assim como desconversa sobre o novo modelo que será replicado para toda a rede. O previsto é que os minimercados Nissei ganhem uma nova funcionalidade, que o empresário chama de “shopping de farmácia”. A proposta é oferecer a maior variedade de produtos, entre remédios e artigos em geral, para terapias e tratamento de doenças. O espectro vai de vacinação a tratamento de fertilidade, ou mesmo produtos para diabéticos, até ortopedia e pós-operatório. Afinal, o brasileiro é ávido por novidades e, nesse setor, o remédio mais indicado é a ousadia.
Treinar e perder
Junto com a operação que reorganizou a empresa, e já de olho numa fatia maior do mercado, Maeoka construiu o Centro de Distribuição que é hoje o coração da empresa. Localizado em Colombo, na região metropolitana de Curitiba, o local tem capacidade para atender a 450 lojas, quase o dobro do tamanho atual da rede. A área de tecnologia da informação também foi atualizada. O empresário diz que só sete empresas no Paraná têm infraestrutura de TI semelhante à da Nissei, que recebeu investimento de R$ 8 milhões desde 2013. Em Morretes, no litoral do Paraná, um centro de treinamento próprio é capaz de receber 180 pessoas.
O programa permanente de qualificação leva grupos de funcionários para imersões de uma semana. “É treinar e perder. Os concorrentes não têm essa prática, e a gente acaba virando escola para os outros”, ilustra Maeoka. Apesar disso, o nível de turnover está sob controle, segundo ele, principalmente do nível médio para cima, por causa do plano de carreira oferecido aos funcionários. O desenvolvimento de talentos é uma característica da gestão da companhia, que está cada vez mais profissionalizada. O organograma já mostra executivos vindos do mercado nas cadeiras de marketing, compras, controladoria e finanças.
A Nissei está presente hoje em 57 cidades do Paraná, São Paulo e Santa Catarina, com 255 unidades, e emprega 5,2 mil pessoas. Fundada em 1986, começou a expandir seu território em 2011, quando entrou no mercado catarinense e onde opera 15 lojas. Desde 2013, abriu 20 unidades em São Paulo.
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