Mão de obra especializada desafia centros de inovação catarinenses
Enquanto diversas cidades Brasil afora buscam desenvolver seus ecossistemas de inovação e tecnologia, Santa Catarina vem consolidando um modelo próprio com base na conexão entre os diversos polos regionais e centros de inovação, por meio da troca de experiências e realização de parcerias conjuntas. Esta foi a percepção de empreendedores, profissionais, investidores e representantes do setor público e da academia que participaram do terceiro Encontro da Rede de Centros de Inovação, realizado em Joinville na semana passada, no Ágora Tech Park.
O evento reuniu todos os representantes de centros de Inovação do estado – já em operação ou que contam com um comitê de implantação – e foi uma oportunidade para apresentação conjunta de projetos, demandas regionais, conexões e novas parcerias. Como o acordo de cooperação entre o Ágora e o recém-inaugurado Pollen Parque Científico e Tecnológico, de Chapecó, que pretende fomentar uma rede de mentores e apoio a projetos e startups do Oeste e Norte do estado.
Sede do encontro, o Ágora Tech Park mostrou como, em pouco mais de dois anos e meio, se tornou um ponto de referência para desenvolver o ecossistema de tecnologia de Joinville (startups, incubadoras, entidades e associações, prestadores de serviços especializados) e gerar novos projetos: de um cluster de inovação para saúde, diversos projetos de inovação aberta e um ambiente de testes para tecnologias voltadas a cidades inteligentes, como destacou o diretor de novos negócios, Jean Vogel, na abertura do encontro. "Nosso objetivo é organizar iniciativas e desenvolver projetos junto a atores regionais, nacionais e internacionais. O Ágora não visa desenvolver projetos por ele mesmo", explica o diretor.
Investimento privado do Grupo Perini, o Ágora tem uma estrutura de 14 mil metros quadrados, três prédios e uma perspectiva de construção de outros seis nos próximos oito anos. Desde sua inauguração, em março de 2019, atraiu players como Sebrae, Fiesc e Acate, que desenvolvem projetos e apoiam iniciativas empreendedoras (como FabLab e LinkLab), além de startups como a Transfeera (destaque de 2020 segundo a Associação Brasileira de Startups) e a primeira incubadora (Softville Ágora) da rede Miditec em Santa Catarina – hoje são cinco usando a metodologia no estado.
O modelo catarinense, considerado único no país, atraiu a atenção de empreendedores do Espirito Santo, que levou uma comitiva com 30 pessoas para conhecer na prática os projetos, os atores do ecossistema e os resultados dessa conexão entre os Centros de Inovação. "Temos muito o que desenvolver no estado em termos de inovação e novos negócios. Santa Catarina tem sido uma referência para nós, pois temos algumas características em comum", ressalta Francisco Carvalho, presidente da Base 27, hub de inovação capixaba.
Na visão de Iomani Engelmann, presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (Acate), Santa Catarina pode medir seu desenvolvimento "se inspirando e competindo com Israel", a "Startup Nation", ao fortalecer este modelo de "startup state". "Somente nos primeiros meses de 2021 tivemos R$ 5 bilhões investidos em empresas de tecnologia de Santa Catarina, seja como venture capital, aquisições e IPOs. No estado temos 30 fundos de capital de risco em operação, mais de 100 investidores anjo. Mas há duas engrenagens ainda não adequadas: estrutura de capital e formação de mão de obra especializada. Esta é também uma oportunidade para os municípios também, ao gerar equidade social por meio de empregos de alta qualificação e remuneração", define. Pelos cálculos da Acate, será preciso contratar aproximadamente 12 mil profissionais de TI no próximo ano e em 2023 – mais da metade devem ser programadores.
Em Criciúma, um projeto social desenvolvido pelo Centro de Inovação Cisa Abadeus pode se tornar uma referência para outros polos regionais de tecnologia no estado. Por meio de cursos profissionalizantes, 250 jovens carentes já foram capacitados em robótica desde a inauguração do centro, em março deste ano, e a expectativa é dobrar esta capacidade até o final do ano. "Nossa especialização é trabalhar as vulnerabilidades sociais. Como tornar a inovação possível a estas comunidades?", comenta Shirlei Monteiro, diretora executiva do Cisa Abadeus, cujos alunos já criaram dois projetos de aplicativos que estão pré-incubados e outros quatro projetos foram aprovados no programa NaSCer, da Fapesc.
"A Rede de Centros de Inovação é um movimento de política de estado, mas não daria certo sem a governança das entidades. Estamos em um processo de amadurecimento, com muitos desafios, divergências e aprendizados, mas em expansão. Fizemos 42 chamadas públicas (editais) para liberação de recursos neste ano, que somam mais de R$ 100 milhões. É a hora dos centros estruturarem suas governanças para inscreverem projetos e se desenvolverem", resume Fabio Zabot Holthausen, presidente da Fapesc.
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