Inspiração: a melhor parte da Web Summit Lisboa
Se houve um consenso entre os participantes da Web Summit é que a interação entre empreendedores superou o conteúdo da programação. E isso não é pouca coisa: na última edição do maior evento de tecnologia e inovação do mundo, foram apresentadas inúmeras palestras com executivos das principais empresas. Para compartilhar um pouco das histórias inspiradoras que permearam a conferência, a reportagem do Portal AMANHÃ dedicou um dia da programação para conversar com líderes de startups. Selecionamos cinco empresas com negócios, estratégias e estágios bem diferentes entre si, além de um fundo de investimento. Mas todas elas têm algo em comum: o propósito de oferecer uma solução a um real problema da sociedade. Confira cada um dos cases a seguir.
A paranaense que cria comunidades
Do Paraná, veio o mais novo unicórnio brasileiro: o Ebanx. É um estado com pujante ecossistema de inovação. E de lá vem uma startup que de destaca nacionalmente – e já possui tentáculos fora do país. Sua missão? Ser uma plataforma para construir comunidades online.
O foco está em conteúdo para converter o público em leads e clientes. Assim, os seguidores são transformados em consumidores. E todos saem ganhando: o público, que especializa no tema; e o influenciador, que agora conta com uma estrutura para monetizar seu conhecimento. “A pessoa vira um canal de mídia”, sintetiza o CEO Luciano Kalil (no mosaico, primeira foto acima, da esquerda para a direita). Ele oferece como exemplo um cabeleireiro que possui uma grupo fechado com mais de 1.500 assinantes.
Aberta em Delaware, nos Estados Unidos, a Duopana tem sede em Curitiba. A equipe tem mais de 20 pessoas, com profissionais voltados à operação, desenvolvimento e marketing. Seus números dão uma mostra de como o mercado vem recebendo a novidade: já são mais de 300 mil membros, 280 comunidades e 24 mil artigos publicados. E a receita? Já passou da casa dos R$ 2 milhões.
A catarinense que faz gestão de viagens
“Eu estava no auge da carreira corporativa, trabalhando na Avenida Paulista e ganhando um monte de dinheiro”, relata Daniele Amaro (no mosaico, segunda foto acima, da esquerda para a direita). Ela desistiu da carreira convencional para fazer uma aposta de alto risco. “Acabamos de fazer três anos de empresa, e só agora tenho um salário aceitável. Tem um glamour [em relação às startups] que não é verdadeiro. Se trabalha demais e se abdica de muita coisa”, revela, com sinceridade.
Transitando por diversas empresas, Daniele percebia que um problema era recorrente entre todas elas: a gestão de viagens dos funcionários. Seja qual fosse o tamanho da organização, perdia-se muito tempo para fazer todo o controle de reembolsos e adiantamentos. Alguém viajava e sempre tinha de ficar guardando as notas fiscais. Voltava para o escritório e precisava fazer o relatório. E a bomba era passada adiante: o gestor precisava validar tudo aqui e, eventualmente, passar uma reprimenda.
Não haveria uma forma de automatizar esse processo que consome tempo e recursos? A solução foi criada em Blumenau (SC). Cuidando de todo o processo de forma integrada, o Paytrack garante o cumprimento das políticas de viagens das empresas, conectando tudo ao backoffice. Melhor para o funcionário e para a companhia, que agora podem focar no que realmente interessa. “O que faz uma startup ter sucesso não é onde você começa, mas como se transforma para construir junto com o cliente”, ensina a CEO.
A gaúcha que acelera vendas
No Rio Grande do Sul, uma agência de marketing digital precisava de uma ferramenta para controlar as vendas. Conheceram diversas alternativas disponíveis no mercado, mas nenhuma atendeu às suas expectativas. E aí surgiu a ideia: desenvolver um sistema próprio. O resultado foi tão positivo que os empresários decidiram fechar a agência para focar exclusivamente na plataforma – que, entre outras vantagens, proporcionava um modelo de receita recorrente. Assim foi criado, em 2017, o CRM PipeRun.
Lançado ao mercado, o módulo comercial teve boa aceitação. Até que, certo dia, tocou o telefone: do outro lado da linha, um executivo da Netshoes. Cezar Gehm (no mosaico, terceira foto acima, da esquerda para a direita), fundador e CEO da startup gaúcha, chegou até a pensar que fosse trote. Não era, e o primeiro grande contrato foi fechado. Desde então, em apenas 30 meses, vieram nada menos do que 850 clientes B2B.
Hoje, a equipe reúne em torno de 40 pessoas, que atende companhias de todo o Brasil. Tudo isso a partir de duas sedes no Rio Grande do Sul: Santa Maria e Porto Alegre. “Muito antes de sermos uma empresa que faz software, somos uma empresa que faz venda. Temos a dor do cliente e tentamos resolver a nossa, que é a mesma dele. Isso faz com que tenhamos uma velocidade comercial muito rápida”, afirma Gehm, acrescentando que o CRM PipeRun se destaca dos concorrentes internacionais por ser adaptado ao mercado brasileiro. E a meta? “Construir a melhor plataforma de aceleração de vendas do país, e acho que estamos no caminho certo.”
A paulista que financia desbancarizados
Quem circulou pelo pavilhão 3 da feira de negócios da Web Summit pode ter se deparado com um jovem de apenas 19 anos explicando o que pretende fazer de sua startup. Estudante de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV), André Szapiro (no mosaico, primeira foto abaixo, da esquerda para a direita) sempre se inspirou no pai, que é empreendedor. Desde pequeno, gostava de participar de reuniões ao lado dele para aprender.
Membro da Liga de Empreendedorismo da FGV, Szapiro está ainda no estágio inicial do desenvolvimento de sua startup. Criada em 2019, a Baduk propõe uma solução para uma dificuldade muito comum no Brasil. “Temos 60 milhões de desbancarizados, pessoas sem conta e sem acesso a serviços financeiros. Quanto mais informais são, mais problemas têm para obter crédito”, explica, destacando que os bancos não topam em função da falta de dados desses cidadãos.
Uma espécie de piloto já foi executada, e deu certo. A fintech emprestou R$ 250 para uma vendedora de panos que trabalha na Avenida Paulista. “Em três semanas, triplicaram o dinheiro, pagaram a plataforma e criaram mais uma barraquinha”, conta com orgulho o jovem empreendedor. Até agora, o capital veio de sua mesada. O próximo passo é conseguir dinheiro com familiares e amigos – e, assim, dar mais escala aos negócios.
A portuguesa que extermina currículos
Era impossível passar pelo primeiro pavilhão sem notar um foguete, bem no corredor central. Mais do que um recurso apelativo para chamar a atenção das mais de 70 mil de pessoas que passaram por ali, o objetivo era vender um novo conceito para a contratação de pessoas. Portuguesa, a Hire.Me foi criada por dois jovens psicólogos: João Henriques, 22 anos, e Madalena Ferreira, de 27 (no mosaico, segunda foto abaixo, da esquerda para a direita).
“Achamos que o recrutamento se tornou muito impessoal nas empresas. Um currículo não mostra o que é de verdade uma pessoa, deixando de fora suas soft skills, por exemplo”, expressa João Henriques. A plataforma conecta profissionais em busca de trabalho com empresas a partir de uma experiência mais humana.
O pretendente a um cargo grava uma espécie de pitch em um vídeo de até um minuto. Além disso, preenche alguns dados e lista suas principais competências no formato de hashtags. “Assim, as empresas podem filtrar o que buscam e ter um resultado muito mais preciso”, assegura Madalena. Com investimento de 80 mil euros por um acionista, o app foi lançado oficialmente no evento em Portugal. E pela elevada procura que teve entre os participantes da Web Summit, talvez os dias do tradicional curriculum vitae estejam contados.
O fundo que concretiza sonhos
Notebook no colo, ideia na cabeça e bolso vazio: muitas vezes, é apenas isso que os fundadores de startups possuem no início de seus negócios. Com pouco dinheiro, uma das alternativas é a busca de capital externo. O desafio é grande no Brasil, um país ainda incipiente em cultura de investimentos. É nesse mar – ainda azul – que surfa a gestora Bzplan, que aporta recursos e acelera empresas com alto potencial.
Na avaliação do sócio-fundador Marcelo Wolowski (no mosaico, terceira foto abaixo, da esquerda para a direita), a região Sul tem um potencial altíssimo. “São três estados fantásticos, com muitos empreendedores, alto nível de educação e, no fim das contas, pouca competição para um fundo como o nosso.” Segundo ele, três fatores são essenciais para a Bzplan apostar em uma startup: qualidade do time, com no mínimo dois sócios (um com mais conhecimento técnico e outro com foco comercial); estágio de negócio já em escala; e estar em um mercado grande o bastante que permita o crescimento acelerado.
O executivo ainda cita dois dos principais erros cometidos pelas empresas. O primeiro é o valuation alto, quando o preço estimado do negócio é exagerado. O outro diz respeito à estrutura societária: quando um investidor externo entrou muito cedo e ficou com boa parte das cotas, deixando o fundador com uma participação muito pequena. Para Wolowski, isso diminui o comprometimento de quem toca a operação.
São pontos que, se ajustados, ajudarão as startups a aproveitar um momento propício para a busca de capital. “As taxas de juros no Brasil estão baixas. Por isso, os fundos de venture capital são uma alternativa para ganhos superiores aos investidores”, avalia. Mais um incentivo para quem quer tirar sua ideia do papel – e, quem sabe, ganhar muito dinheiro. “Não é uma tarefa fácil ser empreendedor. Mas existem diversos casos de sucesso. Todos querem ser o Facebook ou o Google, e isso é para poucos. Mas existem oportunidades para ser 1/10 ou 1/20 do Google. E isso já estaria excelente”, sintetiza Wolowski.
*O Grupo AMANHÃ está presente em mais uma edição da Web Summit. A curadoria da cobertura tem a assinatura da BriviaDez, que promove uma missão ao evento.
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