Brava gente brasileira
O nome dele é Pedro e tem 30 anos. Mora há 12 em Angolae chegou lá determinado a vencer. É claro, não fazia a mínima ideia do que oesperava e hoje, no tom de um jovem sábio, fala como os veteranos decombate. "Corri riscos, mas não me dava conta deles. Foi sorte.Se soubesse que estava tão vulnerável, teria recuado". Mas, então, nãoteríamos a história bonita que nos legou. Conto-a. Pedro perdeu o pai aos 11anos e a mãe se viu com sete crianças para encaminhar. Trabalhando duro comconfecções no Agreste de Pernambuco, de vez em quando puxava a conta-gotas osvalores da família. O primeiro dever de um comerciante era honrar seuscompromissos, ou seja, pagar os fornecedores. Só depois, com o quesobrasse em caixa, se atendem as demandas pessoais. Um mantra simples.
Foi assim que ele chegou a Luanda onde dividiu umcolchão com o irmão. Como luxo único, tinha um ventilador de páspreguiçosas. Com as malas de mostruário em punho, pegava um avião militarrusso, tripulado por dois pilotos cheirando a vodka e fumando sofregamente. Ospassageiros iam de pé e Pedro sabia que não podia descuidar das valises se nãoquisesse ser roubado. No destino, o boxe do chuveiro tinha tanto lodo quetomava banho de sapato e as paredes eram pretas de mosquitos. Tudo era umsuplício. Até que abriu a primeira loja, perto do prédio da Sonangol. Mas oponto se revelou ruim, pois as pessoas passavam já de sacola cheia. O irmãodesistiu, mas ele perseverou. Até que os ventos mudaram. Acertou nasegunda loja e hoje tem seis. Com Angola endividada, foi atrás do cash.Manteve as lojas e abriu dois restaurantes que hoje rendem dinheiro sonante.
Para completar o script, um dia conheceu umapaulista das bandas de Rio Claro. Gostou dela. Ela só chegara ali para fazer umtrabalho de auditoria. “Não, não, não. Você fica”, pediu ele. Hoje ela toca aslojas e ele os restaurantes. Tinha um sonho quando chegou. Faturar US$ 1 mil pordia. Ainda na fase pioneira, na véspera de certo Natal, faturou US$ 99 mil. Foium marco que ele comemorou dormindo de tanto cansaço. Na longa conversaque tivemos, destacou a sorte. Como foi afortunado. “Sorte?”,pergunto. “Qualquer um que tenha perseverado tanto, só pode mesmo atrairisso que você chama de sorte. Ou, então, seria muito azarado”, comentei.Ele sorri. “Vou te levar para fazer um circuito de palestrasuniversitárias comigo de Brasil afora para inspirar nossa juventude”,sugeri. Ele diz que não pode, pois mal terminou o segundograu. Ora, Pedro, para mim você é PhD.
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