Taça meio cheia ou meio vazia?
A inserção do vinho no cálculo do IPCA gerou acalorada polêmica, pois a bebida, segundo especialistas, poderia ter grandes chances de se tornar a vilã da inflação oficial brasileira. Ao menos por enquanto, esse temor caiu por terra quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que o produto teve queda de preço de 0,27% em janeiro. Porém, o anúncio trouxe algumas dúvidas. Por qual razão, por exemplo, apenas o Rio de Janeiro figura como cidade pesquisada para o vinho consumido fora de casa, ou seja, em restaurantes ou bares, como demonstrou o Blog Cepas & Cifras no post passado?
A questão é meramente metodológica – e bem simples. “Isso não é uma escolha arbitrária, mas uma decorrência dos resultados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), que foi a campo entre julho de 2017 e junho de 2018, visitando cerca de 70 mil domicílios em todo o país. Se a pesquisa não indica que o produto tem peso em uma determinada localidade, então os preços desse produto não são coletados”, detalha o IBGE por meio da assessoria de imprensa. Os critérios para entrada de um subitem específico no índice, como é o caso do vinho, são: participação igual ou superior a 0,07% da despesa total das famílias ou participação inferior a 0,07%, mas superior a 0,01% da despesa total.
O estudo feito pelo IBGE na casa dos brasileiros tem como objetivo traçar um retrato detalhado do que é consumido pelas famílias do país, de modo que a cesta de produtos analisados pelos índices de inflação esteja sempre atualizada. “Trata-se de uma pesquisa amostral. O subitem vinho aparece na pesquisa, mas sem desagregações. Não dá para saber quais tipos de vinho são consumidos, apenas que esse item é consumido pelas famílias”, revela o Instituto. As tabelas a seguir mostram os pesos de determinados itens (no caso da carne) e subitens (como o contrafilé ou cerveja) no consumo das famílias e podem facilitar a compreensão do método empregado pelo órgão. Elas estão desagregadas pelas localidades em que há coleta de preços do IPCA e, também, se é relacionado com alimentação fora ou dentro de casa.
Na média do Brasil, o vinho consumido no domicílio tem peso de cerca de 0,07% no orçamento médio das famílias, enquanto o contrafilé, por exemplo, pesa 0,45%. Já o subgrupo das carnes, que relaciona 18 cortes diferentes, pesa 2,7%. Por isso é possível saber se determinado tipo de carne está mais cara ou mais barata. E não pode-se fazer o mesmo com o vinho afirmando se o consumo foi de um rótulo de mesa ou fino, e se nacional ou importado, por exemplo. Nota-se, também, que o peso do vinho no Rio de Janeiro é mais alto do que em Curitiba ou mesmo São Paulo.
Pesos de produtos – IPCA | |||||
Local | Vinho | Cerveja | Refri/Água mineral | Carnes | Contrafilé |
Brasil | 0,0678 | 0,4059 | 0,4947 | 2,6658 | 0,4514 |
Rio de Janeiro (RJ) | 0,1669 | 0,3896 | 0,4334 | 2,3983 | 0,3729 |
São Paulo (SP) | 0,0936 | 0,3936 | 0,5101 | 2,1682 | 0,3951 |
Curitiba (PR) | 0,1011 | 0,5963 | 0,5448 | 2,7831 | 0,4510 |
Porto Alegre (RS) | 0,1586 | 0,5282 | 0,6006 | 2,7627 | 0,2451 |
Pesos de produtos – IPCA | |||
Local | Vinho | Cerveja | Refri/Água mineral |
Brasil | 0,0081 | 0,2963 | 0,1258 |
Rio de Janeiro (RJ) | 0,0855 | 0,2413 | 0,0870 |
São Paulo (SP) | - | 0,2642 | 0,1371 |
Curitiba (PR) | - | 0,3148 | 0,1066 |
Porto Alegre (RS) | - | 0,1729 | 0,1528 |
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