O chef Carlos Bertolazzi

Li com tristeza sobre o suicídio do aclamado chefe franco-suíço Benoît Violier, encontrado morto perto de Lausanne. Especialista em carne de caça e filho de um viticultor, a versão suíça do consagrado guia Gault & Millau lhe tinha outorgado em 2013 o...
Carreira

Li com tristeza sobre o suicídio do aclamado chefe franco-suíço Benoît Violier, encontrado morto perto de Lausanne. Especialista em carne de caça e filho de um viticultor, a versão suíça do consagrado guia Gault & Millau lhe tinha outorgado em 2013 o título de chefe do ano. Jovem e inspirado, seu falecimento me remeteu de imediato a um fato similar e igualmente absurdo: o suicídio do também chefe, o premiado Bernard Loiseau, dono do La Cote d' Or, um templo da gastronomia.

O calvário de Bernard Loiseau – falecido em 2003, aos 52 anos – começou quando correram rumores de que seu restaurante iria perder a terceira estrela Michelin por conta de uma crítica negativa do jornal Le Figaro. Desesperado, Bernard ainda foi a Pari s – em rara visita, já que não arredava pé do restaurante em Saulieu – para tentar apurar o que poderia haver de verdade nos comentários. Voltou, na verdade, mais desesperado do que foi, no esforço de interpretar as entrelinhas das enigmáticas conversas que teve.  

Nesse contexto, como os clientes se queixavam de não dispor de acomodações à altura da degustação de menus de centenas de euros, Loiseau contraíra empréstimos e dotara o local de suntuosos quartos diferenciados para que a clientela comesse e bebesse sem a preocupação da estrada. Preocupado com o endividamento, agora agravado pela possível perda da estrela, o desespero tomou conta do jovem chefe que terminou por se suicidar com um rifle de caça. O 11 de setembro tinha, ademais, afugentado os endinheirados turistas americanos.  

Antes que alguém pergunte, já respondo: o restaurante manteve a classificação e eis que o chefe morreu em vão, possivelmente sucumbindo a uma forte depressão. A viúva lhe herdou o negócio e o maître com quem o marido trabalhara ao longo de mais de vinte anos. Quando penso a respeito, me ocorre pensar nos trabalhos de cunho autoral. De longe, estes são os mais suscetíveis a levar seus artífices ao desespero. Afinal, eles são artistas. E, como tal, precisam ser amados. Numa outra vertente, os japoneses evitam ao máximo as três estrelas. A afluência poderia afugentar os clientes fiéis.  

Sem conhecer o jovem Violier, cujo destino deploro, louvo Carlos Bertolazzi (foto), hoje nacionalmente famoso por conta de sua convincente participação em reality shows de cozinha, no bojo do sucesso do excelente Zena Caffé, da Peixoto Gomide, São Paulo. Carluccio, que conheço desde criança, incursionou durante alguns anos no mercado financeiro até optar por uma vocação que palpitava de longe. Na verdade, de tanto ver o pai Alberto se esmerar em pratos suculentos de sua Lombardia natal. Pois bem, Carluccio, que a vaidade não o afaste da felicidade e da cozinha honesta.

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Sexta, 13 Dezembro 2024

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