Notas curitibanas

Façam como eu e visitem Curitiba
Chegando aqui, é inevitável pensar: por que não venho viver em Curitiba?

1 Na minha opinião, Curitiba ainda é a mais europeia das capitais. As ruas são impecáveis, ninguém joga uma tampinha de garrafa de chão. Os prédios públicos e residenciais são belos e espelham um ótimo padrão.

2 – No quesito steak houses, agora tenho uma favorita também aqui. No Rio, gosto da Majorica; em São Paulo, do Bassi; em Porto Alegre, da NB; em Belo Horizonte, a Parrila del Mercado. E em Curitiba?

3 – Curitiba tem uma casa extraordinária, a única steak house do país que tem uma mezuzá à porta de entrada. Trata-se da lindíssima Badida, da família de minha amiga Vivian Troib. É um primor.

4 – Começou com o patriarca, que gostava de fazer carne para os amigos. Badida vem de Bernardo. Nessa terra de empreendedores, logo se tornou referência. Casa lotada, mesa farta, gente bonita e serviço atento.

5 – Comi uma linguiça de entrada e um primoroso T-Bone com farofa de ovos. Tomei três caipirinhas de Salinas que me deixaram no pique para duas horas de bate-papo com os leitores. Sem sobremesa.

6 – Um amigo me falou sobre a proverbial "frieza" dos moradores locais. Disse que as razões são prosaicas. Os italianos foram para Santa Felicidade, os ucranianos para Santa Quitéria e os polacos para Bacacheri.

7 – Meio ilhados na sua conserva cultural, desenvolveu-se um padrão taciturno. Reza o folclore que o sujeito pega o elevador na hora diferente do vizinho para não ter que dar um "bom dia", disse ele. Enfim, são reativos e introspectivos.

8 – Os paranaenses amam seu estado. Essa impressão me salta aos olhos. Mas depois me pergunto: quem não é bairrista no Brasil? Todos são. O brasileiro tem mais devoção ao seu estado de origem do que ao país. Isso é bom e compreensível.

9 – Desemprego não chega a ser um problema no Paraná. Mão de obra, sim. Agora são os venezuelanos que estão chegando. Na Badida, conheci simpáticos garçons cearenses, que viveram no arrasto de uma cantina paulistana. O curitibano não topa qualquer coisa.

10 – Mal comparando, eles são como os alemães dos anos 1980, que traziam contingentes de "Gastarbeiter" da Turquia e da Iugoslávia. Chegando aqui, é inevitável pensar: por que não venho viver em Curitiba?

11 – Ontem passei por uma zona que é, de fato, uma necrópole impressionante. Tem salões de velório e crematórios bem ao lado de um enorme cemitério, com túmulos do padrão Recoleta.

12 – O cemitério judaico não fica longe da cadeia de Lula. O cachorro que subiu a rampa do Planalto na posse era do inquilino de um amigo daqui. Dona Janja deu uma escorada na Gleise, pelo que se conta. O caso ferveu.

13 – Saí pouco, mas não vi ninguém com uma cuia de chimarrão como era comum nos anos 1980 e 1990, quando eu vinha mais ao estado. O sotaque das pessoas também parece mais brando, menos metalizado no "e" final, mas resiste.

14 – Espécie de Texas brasileiro, aqui vota-se à direita. Imagino que em Santa Catarina haja um componente mais raivoso, com mais ranço. O daqui é cerebral, calculado, sopesado. Há boa aceitação ao perfil dos políticos de proa locais.

15 – As pessoas são muito elegantes. O frio as leva a se vestir com esmero e qualidade. A índole é cortês e acolhedora. Há muita cautela no trato interpessoal e o traço da sociedade é igualitarista, sem distância de poder.

16 – É comum que eles façam alusões a viagens ao Nordeste em que o padrão full time das domésticas chocava-os por julgarem-no análogo à escravidão. Nesse ponto, vivem um padrão de feição europeia, mais germânico do que ibérico.

17 – A proximidade relativa de várias capitais brasileiras importantes faz com que os curitibanos possam usufruir do melhor delas sem abdicar de seus cafés e confeitarias, um ícone caro à cidade.

18 – Pessoas que pedem esmola nas ruas são ouvidas e tratadas com respeito, senão com atenção. Na zona em que estou, 20% dos carros têm blindagem, talvez até mais. Os preços no geral são os mesmos de São Paulo.

19 – Voltei ao restaurante Bologna, onde não ia há muito tempo. Come-se bem, mas o lugar parece ter perdido um pouco do calor humano. As paredes amadeiradas aconchegam, mas falta gente às mesas.

20 – O quartel general da vida judaica é impressionante. Não vi os vitrais da sinagoga por dentro, mas farei isso da próxima vez. Lá está também o Museu do Holocausto. Sim, Curitiba continua linda. Quero voltar.

21 – Na rodada de ontem sobre "O halo Âmbar", me impressionou o gabarito das perguntas e as sacadas geniais de alguns leitores, especialmente de psicanalistas e terapeutas. O mote judaico também passou por angulações originais.

22 – O shopping Batel tem marcas do mais alto padrão. Lojas da Prada, Louis Vuitton e uma linda Valentino. As mulheres daqui podem ser muito belas, embora sejam ariscas. Parece que estamos em Varsóvia ou Kiev. Em suma, façam como eu e visitem Curitiba.

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Comentários: 1

Marcelo em Sexta, 06 Setembro 2024 15:19

Parabéns!
Na próxima visita, procure ir até os bairros Caximba, Pinheirinho, Vila das Torres, Caiuá... Seu entendimento sobre Curitiba pode mudar. Talvez conheça a verdadeira Curitiba.

Parabéns! Na próxima visita, procure ir até os bairros Caximba, Pinheirinho, Vila das Torres, Caiuá... Seu entendimento sobre Curitiba pode mudar. Talvez conheça a verdadeira Curitiba.
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Quinta, 21 Novembro 2024

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