Feijoada chinesa
Cada vez mais a feijoada no Brasil é chinesa. O principal ingrediente, o feijão preto, vem de lá; o alho também; e a cebola e a pimenta, se ainda não são da China, estão perto de ser. A carne de porco deles não chegou aqui, mas não tarda: o país é o maior produtor mundial. A laranja demorará, mas não muito: querem ser autossuficientes na fruta da qual mais importam o suco do Brasil. Só o arroz deve continuar brasileiro, por causa do sabor, e a couve, pois seu preço não paga a viagem.
Há muitos anos, durante reunião com diretores de uma empresa em Dalian, charmosa cidade portuária da província de Liaoning, fiquei espantado quando me disseram que queriam vender mais feijão preto para nós. Meu espanto aumentou quando pesquisei a respeito e descobri que a China havia ultrapassado o México na exportação desse produto para o Brasil – comíamos feijão preto chinês há muito tempo e eu não sabia!
Comecei a me interessar em exportar alimentos para a China em 1997, e nunca me ocorreu que o Brasil importasse de lá nenhum outro produto agrícola além do alho. Quando recebi uma comitiva da província de Shandong, interessada em exportar amendoim para o Brasil, passei a encarar com menos ceticismo o objetivo anunciado de serem autossuficientes em café, laranja, uva/vinho e lácteos, cuja produção e consumo interno aumentam ano a ano.
Durante o curso intensivo sobre a China que ministrei para integrantes das entidades de produtores de maçãs do Rio Grande do Sul e nacional, em Vacaria (RS) e São Joaquim (SC), em 2016, ficou evidente para todos que a possibilidade de importação de maçãs e peras chinesas – das quais a China é de longe a maior produtora mundial – é algo muito real, que ficará como uma espada pendendo sobre a cabeça de quem é do setor no Brasil.
Voltando à feijoada, além do arroz e da couve também deverá permanecer nacional por bastante tempo é a caipirinha, graças ao reconhecimento de origem da cachaça como bebida brasileira – o que não impede que empresas chinesas do setor adquiram marcas tradicionais –, e ao fato de que continuamos os melhores e maiores em limão e açúcar. Não é muito, mas...
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