Isenção tarifária para o arroz não deve ter efeito
Os altos preços pagos pelo arroz alcançaram uma pequena parcela dos produtores catarinenses, avalia Gláucia Padrão, analista do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). "De janeiro a julho, período da colheita do grão em Santa Catarina, aproximadamente 87% da produção já havia sido comercializada, ao preço médio de R$ 51,42 pago pela saca de 50 quilos", informa a economista. "A culpa não é do produtor, quando se fala que o preço ao consumidor está aumentando", sentencia. Em agosto, cerca 2,5% da produção foi comercializada ao valor médio de R$ 65,85. Em setembro, espera-se que apenas 2,5% da produção seja comercializada. Até o final do ano, restam aproximadamente 8% da produção para ser vendida, que pode alcançar preços maiores.
Em agosto os preços pagos ao produtor catarinense valorizaram 12,2% em relação a julho, enquanto no mercado gaúcho a variação dos preços foi de 17,5%. Já na primeira quinzena de setembro, os preços pagos ao rizicultor catarinense aumentaram 26,5%, tendo como média parcial R$ 83,34 pagos pela saca de 50 quilos. No Rio Grande do Sul, os preços ultrapassaram R$ 100 a saca na primeira quinzena de setembro, representando uma variação de 30,5% em relação à média do mês anterior.
As exportações catarinenses também apresentaram comportamento atípico nos últimos meses. Até o momento, o total exportado equivale a quase oito vezes o volume vendido a outros países em 2019. De janeiro a agosto, Santa Catarina exportou quase 47 mil toneladas de arroz e importou mais de 16 mil toneladas. África do Sul, Guatemala e Senegal são os principais destinos do arroz catarinense. O Uruguai tem sido o principal fornecedor do grão importado pelo Estado, com cerca 77% do total, seguido do Paraguai, de onde vieram em torno de 15% do arroz que chegou a Santa Catarina neste ano.
Gláucia enxerga com reservas a decisão da Câmara de Comércio Exterior (Camex), do Ministério da Economia, de reduzir até dezembro a alíquota do imposto de importação de até 400 mil toneladas de arroz com casca não parboilizado e arroz semibranqueado e branqueado, não parboilizado. Ela tem dúvidas se a medida surtirá efeito no mercado doméstico. "Entre os países que já comercializaram com Santa Catarina neste e em outros anos e, portanto, podem ser origem de maiores volumes de importação nos meses que se seguem, destacam-se os Estados Unidos, que enfrentaram vários problemas nesta safra, como furacão e tempestades, além da Argentina e do Paquistão, que historicamente entram no mercado catarinense no segundo semestre", relata a analista.
Comportamento atípico
Gláucia destaca o comportamento atípico dos preços pagos pelo arroz, principalmente a partir de abril. O normal é que, entre fevereiro e junho, aconteça uma queda acentuada nos preços em função do período de colheita, que aumenta a oferta interna. "Contudo, o avanço da pandemia e as incertezas quanto ao abastecimento provocaram uma corrida aos mercados, reduzindo ainda mais os estoques industriais do grão, o que refletiu nos preços", descreve a analista.
A partir de julho, o comportamento esperado para os preços ao produtor é de aumento. Isso se justifica pelo fato de boa parte da safra ser comercializada imediatamente após colheita, diante da necessidade dos produtores em fazer caixa. "Assim, resta para comercialização apenas o arroz dos produtores capitalizados, que conseguem esperar para alcançar melhores preços no segundo semestre", explica Gláucia. A safra 2019/20 de arroz foi maior que a média, mas mesmo assim os preços seguiram altos. "A demanda é o principal fator que tem segurado os preços em patamares tão elevados", pondera a analista da Epagri.
Veja mais notícias sobre AgronegócioBrasilEconomiaSanta CatarinaRio Grande do Sul.
Comentários: