Na boca do povo
![](/images/p/3512/b2ap3_large_linha-tio-joao.png)
Habilidoso, Joaquim se adaptou rápido ao modo de operação do comércio local. Em pouco tempo acabou abrindo seu próprio comércio. Inaugurou um novo armazém em frente ao antigo local de trabalho: o A Tira Fogo. O empreendimento vingou mais rápido que o previsto, e Joaquim começou a vislumbrar novos negócios em solo brasileiro – país onde cada vez mais se identificava e fixava raízes. Para crescer, no entanto, precisaria de ajuda. Ao longo da década de 1920, em ocasiões diferentes, três irmãos do imigrante desembarcaram no país para tocar os negócios: João, Urbano e Lauro. Cada um assumiu uma ramificação do atacado em uma cidade portuária diferente. Para aproveitar a demanda contínua de municípios à beira-mar, o comércio da família Oliveira expandiu para Rio Grande, Porto Alegre e Rio de Janeiro. Todos com bons resultados. Os lucros do comércio se revertiam, grande parte, em compra de terras a “preço de banana” no Banhado do Taim, entre Rio Grande e Pelotas – hoje as cidades mais importantes na Metade-Sul do estado. Nessas áreas, fundariam a Granja Quatro irmãos, especializada no plantio de arroz e na criação de gado.
Os negócios não paravam de crescer. No início da década de 1950, a matriz do atacado de Joaquim já estava fixada na capital gaúcha. Em 1952, Joaquim faleceu, com 56 anos de idade. Por pouco, ele não viu o nascimento do principal supermercado do Rio Grande do Sul. Um ano após a morte do empresário, a companhia por ele criada inaugurou o embrião da marca Real, que acabou se tornando a quinta maior cadeia de varejo do Brasil, com 78 lojas espalhadas pelo país. Com o avanço do negócio varejista da família Oliveira, aos poucos o atacado de Joaquim foi perdendo razão de existir – e os grandes galpões dos estabelecimentos transformaram-se em depósitos para estocar os produtos da rede de supermercados Real. O transporte das cargas passava por uma mudança importante no Brasil. As hidrovias e ferrovias começavam as ser preteridas por estradas, mudança que fez nascer o braço de transportes do grupo, a Asterix. Dois anos depois, em 1976, foi criada a Redata, empresa de processamento de dados em parceria com a Lojas Renner.
Ao mesmo tempo em que se ampliava a atividade dos supermercados Real, a companhia continuava adquirindo terrenos nos arrabaldes da zona Sul do estado. A extensão de terra já somava 28 mil hectares entre as cidades de São Lourenço do Sul e Santa Vitória do Palmar. As compras de terrenos ultrapassaram as fronteiras gaúchas e chegaram ao Mato Grosso, Pará e Goiás. A semente campeira fomentou a criação de uma nova empresa: a Real Agropecuária. Mais adiante, no início dos anos 1970, o grupo fundou em Pelotas uma moderna indústria de beneficiamento de arroz, grão que já cultivava na maioria das terras da família. Era a Suprarroz, que além de produzir, embalava o arroz em sacos de um, dois e cinco quilos. A nova planta fornecia arroz para toda Rede Real e chegou a ocupar as prateleiras de outros supermercados como o Pão de Açúcar, rede líder em São Paulo – além de compor as cestas básicas montadas pelo governo federal. Mas a denominação inicial da marca não vingou: tinha uma sonoridade muito industrial, distante do dia a dia das pessoas que consumiriam o produto. A busca por um nome mais simpático deu origem ao arroz Tio João. Foi um marco na história do grupo, que pouco depois adquiriu uma nova identidade: a holding Josapar, união da extensa razão social Joaquim Oliveira Participações S/A.
Tio João veio do Tio Sam
A origem do nome Tio João surgiu da cabeça do genro de Joaquim Oliveira, o americano radicado no Brasil, Don Charles Bird. Com frequência, Bird viajava à terra natal com a esposa Necy, em busca de novidades no varejo alimentício. E uma marca popular se destacava bastante no mercado de arroz norte-americano, a Uncle Ben´s, ou Tio Ben. Foi só trocar Ben por João, e pronto: a marca brasileira ganhou um nome de sonoridade íntima e popular, que logo caiu nas graças dos consumidores. De quebra, a marca prestava uma homenagem a um dos quatro tios fundadores.
O Tio João, por sinal, foi o primeiro produto do grupo a virar propaganda institucional. Já em seu primeiro comercial de TV, a marca de arroz cristalizou sua reputação como um produto que não pode faltar nos lares brasileiros. No anúncio, uma dona de casa aparecia cozinhando, quando o marido entra em casa, vindo do trabalho. A cena originou o slogan: Quem cozinha para quem ama, só usa Tio João.
Na década de 1990, a Josapar já estava presente em todos os estados brasileiros. Para valorizar a abrangência da marca, o grupo lançou a campanha Tá na Mesa do Brasil – e aproveitou a oportunidade para colocar no mercado novos produtos, agregando valor ao arroz. Foram lançados três novos itens e o já existente Tio João Parboilizado. Uma tática de marketing que marcou época foi a risoteria montada em Gramado durante o Festival de Cinema de 2007 – em uma iniciativa em parceria com a revista Caras. No local, além de expor os produtos do grupo, vários artistas badalados serviam-se dos risotos preparados com o arroz Tio João.
Mas o grande trunfo da Josapar foi atribuir valor a um produto básico, uma commodity – tarefa tão complicada nos dias de hoje. O arroz Tio João é hoje uma das marcas mais destacadas no mercado de alimentos em todo o Brasil. A confiança do cliente vem de longa data, fruto do cuidado incessante com a qualidade do produto. A busca pela excelência começa na lavoura, pela seleção das sementes que serão plantadas. Qualidade do início ao fim é uma virtude intrínseca no valor da Josapar. A força do grupo, claro, vai muito além da celebrada marca de arroz.
Hoje, além do arroz com feijão que leva para a mesa de consumidores em todo país, o grupo Josapar produz alimentos a base de proteína isolada de soja e investe também na distribuição de azeite de oliva. Beneficiando 432 mil toneladas de grãos por ano, a Josapar exporta para mais de 45 países, tendo lançado, em 2013, 14 novos produtos – entre eles o bolo sem glúten e sem lactose, além do preparado para mingaus, aumentando seu portfólio de alimentos para aproximadamente cem itens.
Veja mais notícias sobre 100 Marcas do Rio Grande.
Comentários: 1
Orgulho de minha madrinha Necy.