Um mergulho sem volta
De Paris (França)
Confinado há mais de um mês em Paris, consola o fato de saber que a França não está tão cindida na guerra ao coronavírus como estão outros países, a começar pelo Brasil. Nesse contexto, embora a morte possa nos colher em qualquer parte do mundo e a qualquer momento, chego a pensar que, inconscientemente, programei meus passos de forma a estar aqui quando a grande onda (até agora) do tsunami estourasse no mundo. Por enquanto, tudo corre bem, apesar do clima de alerta permanente.
Manter o moral elevado num espaço exíguo e sem acesso livre às ruas é uma experiência desafiante. Para quem está acostumado a trabalhar remotamente, contudo, a tortura é menor. Mesmo assim, a observância a pequenas rotinas internas não desonera de todo a depressão e o desânimo. Como não pensar nos seus? Como não pensar nas pessoas que estão evitando ir ao médico, com medo de pegar o vírus em ambientes hospitalares? O que garante que não estejamos a meses, senão a anos, de uma vacina?
Assim sendo, é inevitável que entrem em marcha os amortecedores do autoengano para que não sucumbamos à loucura. Uma cena que não recomendo a ninguém ver é o processo de entubação de um paciente. Vi na TV em um curso, e confesso que fica difícil nos desvencilharmos da imagem - o que não deve ser nada bom para a imunidade. Além dos prognósticos de 50% de recuperação - o que dá generosa margem à morte -, o comunicado da indução ao coma se dá com toda clareza. E sequer se ouvem votos de boa sorte.
O que me ficou da cena? Pois bem, foi como um mergulho de escafandro rumo às zonas abissais mais escuras. Àquelas onde prevalece um negrume, o frio do oceano, e, vez por outra, pequenas lanternas dependuradas de uma haste para iluminar o caminho dos peixes achatados, um dos poucos seres vivos que habitam aquelas profundezas inóspitas. Digamos que as luzes sejam as esperanças - tão poucas, tão aleatórias, tão bruxuleantes. Daí que embora amparado pelo estado francês, não há como não ceder à angústia.
Seja você grupo de risco ou não, é melhor mesmo ficar em casa e se resguardar. Ainda não se enxerga um fim para essa calamidade. Pelo menos por aqui.
Veja mais notícias sobre ComportamentoCoronavírusSaúde.
Comentários: 1
Amigo Fernando,penso extrema e contrariamente a você.Os sinais de que uma vacina ou tratamento eficaz contra o nosso inimigo invisível estão cada vez mais assíduos e contundentes.Notícias compiladas de diversos periódicos pelo mundo,dão conta de que existem diversas pesquisas em avançado estágio de desenvolvimento,que em breve estarão sendo testadas em humanos,podendo ser a nós disponibilizadas a partir de setembro desse ano. Remédios estão também sendo modificados a partir de suas formulações iniciais e sendo adaptados para o combate ao novo inimigo e estão tendo taxas altíssimas de sucesso,sendo o "Rendesivir"o expoente máximo até o momento,com incríveis 94% de taxa de cura entre pacientes graves/terminais.A própria Cloroquina está sendo reavaliada e tudo indica que se trata de conhecermos a dosagem ideal para atingirmos a excelência nos resultados. Existe também uma pesquisa israelense que promete um medicamento oral contra a covid19 e que pode ser ofertado já a partir de setembro desse ano. Tudo é válido nesse momento de medo.Afinal,o que poderá mudar de tão drástico em nossa rotina quando esse momento passar ou estiver sob controle? Não teremos aglomerações por um certo período de tempo? Talvez por um ou dois anos? Os bares,restaurantes,cinemas,shoppings funcionarão com capacidade reduzida? Talvez para ingressar nesses ambientes precisaremos fazer reserva antecipada e termos nossas temperaturas checadas? O futebol mundial voltará sem a presença de público nesse ano de 2020,com planos de platéia somente em 2021?Ok,ótimo,perfeito!Mas tudo isso,por certo será temporário,até termos a tal vacina ou o tal tratamento. O FMI aponta uma recessão global para esse ano de 2020 dá ordem de 3%,mas já com retomada em 2021,com os índices futuros sobrepujando,sobremaneira, as quedas desse ano.Ou seja,trabalho,emprego,renda,consumo;vida voltando a rotina normal.Claro,somos humanos,queremos sempre ficar em nossa zona de conforto e queremos tudo como sempre foi e quando sempre,queremos tudo para ontem. Não me importo em ter que ficar algum tempo atado a restrições,contanto que tenhamos uma luz no fim do túnel. E isso nós temos.Novamente os cientistas e novamente as vacinas e considerando um prazo de 12 a 18 meses,mas com grande possibilidade de termos excelentes novidades ainda nesse ano.Brother,analisando o pior cenário possível como desfecho para essa situação,teríamos que lidar com a abertura da economia e como todos iremos entrar em contato com o inimigo,a lei do mais forte e preparado iria prevalecer,com a natureza fazendo a sua seleção natural.Agora eu te pergunto...levamos quase 10 anos para identificar e isolar o vírus causador da gripe espanhola(H1N1),a qual dizimou muitíssimas pessoas a mais(até esse momento) que o atual vilão e nesse novo vírus conseguimos identificar,isolar e mapear o código genético em 1 semana após o início do outbreak...vc sinceramente acha que perderemos essa guerra contra o covid 19?
Espero que o futebol volte o mais rápido possível;estou com muitas saudades.